DEU EM O GLOBO
Cássia Almeida
Com economia global instável, risco de novo baque permanece
O mundo que está emergindo da pior crise financeira desde os anos 30 vai crescer mais devagar, com regulação apertada sobre os mercados financeiros e países mais endividados. O crescimento esperado entre 3% e 4% no ano que vem - depois da recessão mundial estimada entre 0,8% e 1,1% deste ano - será muito desigual. Estados Unidos e Europa, onde tudo começou, andarão mais devagar, enquanto emergentes como China, Índia e Brasil puxarão o crescimento global.
A tendência, segundo economistas, é diminuir o desequilíbrio entre os EUA e a China. Os EUA, um consumidor exacerbado, suprido de dinheiro e bens pelo resto do mundo. E a China, com a moeda artificialmente desvalorizada, exportador agressivo. Apesar de exibir uma população 1,3 bilhão, só agora começa a fortalecer seu mercado interno.
Mas o risco de novo baque, nem de perto parecido com o que estourou em 2008, não está afastado. O cenário externo é instável. A intervenção forte do Estado na economia, depois da hegemonia por décadas de um sistema mais liberal, veio para ficar na opinião de alguns analistas. Mas, para outros, o governo recolhe as armas com o arrefecimento da crise.
Para Armando Castelar, economista da Gávea Investimentos, quem ganhou foi o Fundo Monetário Internacional. Esvaziado e com dívidas, recebeu capital. Ganhou importância:
- Sem dúvida quem saiu melhor da crise foram Brasil e Austrália. A China se saiu bem, mas foi afetada por ser dependente do dinamismo dos EUA e da Europa. Houve aumento do crédito doméstico e do investimento público para combater a crise.
Rússia e México são os mais afetados pela crise
Na posição contrária, Rússia e México são escolhidos por unanimidade. O primeiro, com 80% de sua economia dependente do petróleo, perdeu receita de uma hora para outra. O barril do óleo, cotado antes da crise em US$100, caiu para US$40. Com instituições frágeis, sofre com inflação alta e estagnação.
- A Rússia é o único país que ainda está cortando juros, junto com a Islândia, na contramão do resto do mundo. A inflação não cede diante da depreciação cambial - afirmou Mariam Dayub, ex-economista do Banco Mundial.
Já o México sofreu pela ligação umbilical com os EUA, assim como os países da América Central.
- No colapso foi todo mundo para o buraco. Na volta, houve a distinção de países sem problemas com a conta corrente (contas com o resto do mundo), inflação controlada, crescimento menos volátil, sistema bancário mais sólido. Países mais fechados economicamente se saíram melhor - afirmou Mariam.
O economista afirma que os governos vão se recolher depois que tudo se acalmar, mantendo apenas mais regulação no sistema financeiro:
- Não haverá uma guinada ideológica, mas um grau de controle, que era pequeno. Ficarão mais parecidos com o Brasil, que já tinha sofrido sua crise bancária nos anos 80 e 90.
Já para o professor da PUC-SP Antonio Correa de Lacerda, a maior participação do Estado veio para ficar, pelo menos, por algumas décadas, quebrando a "hegemonia do neoliberalismo dos anos 90":
- Era a execração do Estado. Na crise, ficou claro que o setor privado sozinho não funciona. Mas os impostos podem aumentar - diz.
O professor de Economia Internacional da UFRJ Luiz Carlos Prado diz que o esfriamento da crise impediu reformas mais radicais no sistema financeiro, mas que ela afastou a ideia de que é possível ter economia autorregulada. Para ele, o investimento ambiental será outro ator nessa recuperação.
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