Levantamento da Folha mostra que sete em cada dez das principais empresas nas quais o BNDES tinha participação acionária em 2010 estão entre as 300 maiores por faturamento no país. Essa preferência pelas grandes tem gerado críticas de especialistas
BNDESPar privilegia grandes empresas
7 em cada 10 das principais companhias em que braço do BNDES tinha participação em 2010 estavam entre as 300 maiores
Em quase 40% dos casos BNDESPar figura como acionista há ao menos uma década; política é alvo de crítica
Sete em cada dez das principais empresas nas quais o BNDES tinha participação acionária direta em 2010 estão entre as 300 maiores por faturamento no país.
A história do BNDES como acionista -via BNDESPar, seu braço de participações- das empresas listadas em suas demonstrações financeiras de 2010 é relativamente longa. Em quase 40% dos casos, a BNDESPar figura como acionista das empresas há ao menos uma década.
Os dados foram levantados pela Folha a partir da lista divulgada pela BNDESPar das 33 empresas nas quais seus investimentos somavam 85% do total da carteira de participações acionárias diretas do banco no ano passado.
O fato de a BNDESPar entrar com recursos em empresas de grande porte e de algumas participações acionárias do banco se estenderem por muitos anos motiva críticas de especialistas.
LONGE DO MANDATO
Para analistas, o braço de participações do BNDES se distancia de seu mandato, que, segundo documento da própria empresa, é: "Apoiar o processo de capitalização e o desenvolvimento de empresas nacionais (...) principalmente através de participações de caráter minoritário e transitório, buscando oferecer apoio financeiro sob a forma de capital de risco".
"A BNDESPar vem se apresentando mais como uma fonte de recursos para as grandes empresas dos setores eleitos como prioritários pelo banco e menos como uma empresa que visa o fortalecimento do mercado de capitais", diz Rogério Sobreira, professor da Ebape/FGV.
Sobreira também critica a participação de longa duração da BNDESPar em algumas empresas grandes, como Fibria, Copel, Eletrobras, Vale e Petrobras. "É uma longa transitoriedade", ironiza.
COMPRA E VENDA
A atuação da BNDESPar no mercado de ações de forma global (considerando todas as compras e vendas de papéis) é elogiada por analistas do mercado financeiro.
O executivo de uma corretora disse à Folha que os investimentos e as reduções ou vendas de participação (chamados desinvestimentos) têm seguido a boa prática de "vender na alta e comprar na baixa".
O problema, dizem analistas, é o fato de a BNDESPar manter participação significativa em grandes empresas por muitos anos.
A ideia de participações transitórias -ressaltadas pela BNDESPar como parte de seus objetivos- segue a lógica de ajudar as empresas a se fortalecer em um primeiro momento e, depois, caminhar com as próprias pernas.
Segundo especialistas, a longa duração de investimentos -principalmente em empresas grandes- restringe a capacidade da BNDESpar de ajudar as empresas de menor porte, que têm mais dificuldade de se financiar.
Segundo Ruy Quintans, economista do Ibmec, a BNDESPar perdeu sua função original de entrar como acionista em empresas não consolidadas para fortalecer o mercado de capitais.
Para ele, a BNDESPar (e o próprio BNDES) "privilegia setores e empresas escolhidos". "Essas escolhas não estão necessariamente sendo feitas com base no interesse da nação", diz Quintans.
Colaborou Natália Paiva, de São Paulo
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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