Amelia Gonzalez
A comemoração do tricentenário de nascimento do pensador genebrino Jean Jacques Rousseau foi a fonte de inspiração para o subsecretário- geral da ONU, Carlos Lopes, criar o "Day After" (ou "Rio+20+um dia"), movimento que vai ser lançado no sábado, no Vivo Rio, às 10h. Um dia depois de baixar a poeira da Conferência da ONU para o Desenvolvimento Sustentável, o diretor do Programa das Nações Unidas para o M e i o A m b i e n t e ( P n u m a ) , Achim Steiner, o catedrático Ignacy Sachs, o vice-presidente do Instituto Ethos, Paulo Itacarambi, o Prêmio Nobel Rajendra Pachauri e o embaixador André Correa do Lago estarão junto a Lopes para começar a refletir um jeito diferente de os seres humanos se relacionarem entre si, com a natureza e as instituições: — Sabendo que o risco de se ter um texto pouco forte na Rio+20 era grande, imaginei uma forma de juntar sociedade civil e empresas para aproveitar as janelas deixadas pela conferência. Hoje as negociações multilaterais em geral são muito complexas, a tal ponto que um denominador comum conseguido entre tantas pessoas acaba sendo fraco.
E não podemos culpar o país anfitrião por não conseguir um consenso, que tem de ser obtido internacionalmente — disse Lopes.
Por uma agenda mais ambiciosa no futuro A ideia principal é projetar para o futuro uma agenda mais ambiciosa do que o doc u m e n t o q u e s a i r á d a Rio+20. Jean Jacques Rousseau ser virá como âncora porque, já no século XVIII, ele não só falava de solidariedade como também chamava a atenção para uma nova relação do homem com a natureza e a economia. Para o ecossocioeconomista polonês Ignacy Sachs, que participa das conferências do meio ambiente desde Estocolmo em 1972, o acaso foi providencial quando juntou a Rio+20 ao tricentenário de Jean Jacques Rousseau: — Daqui para a frente poderemos dar forma a um novo contrato social do século XXI e ter a ambição de caminhar para um megacontrato social em nível internacional. Embora ainda não tenha lido o tal texto que já foi escrito pelos negociadores da Rio+20, ouço que ele está aquém das expectativas.
Mas é óbvio que, mesmo que o texto estivesse muito bom, seria preciso, a partir de agora, pensar em como caminhar — disse.
Representando um instituto que tem 1.400 empresas associadas, Paulo Itacarambi disse que viu um potencial imenso na ideia de Lopes que será lançada sábado num painel de alto nível da ONU: --- O que estamos discutindo na Rio+20 são ações e intenções que, na verdade, requerem uma mudança muito mais profunda, não só na forma de pensar das pessoas, como de viver e ver o mundo.
O que está dificultando o avanço nas negociações, na verdade, é o fato de essas negociações serem feitas com b a s e n a f o r m a d e p e n s a r atual das organizações públicas e privadas. As pessoas negociam olhando seus interesses pessoais em vez de olhar o conjunto. Por isso não se consegue uma convergência — disse ele.
O rumo que o movimento "Day After" pretende tomar é justamente o oposto ao do individualismo atual, um processo caótico, na opinião de Sachs, em que cada um puxa para si as questões que deveriam ser de todos.
---- O interesse dos países membros da ONU se chocam e acabam nos jogando num p ro c e s s o d e c o m p e t i ç ã o contínua. O movimento do novo contrato social pode contar com instrumentos com os quais Rousseau não contava na época, os meios de comunicação atuais — disse Sachs.
Economia mais ecológica e humanizada O presidente da Fundação Roberto Marinho, José Roberto Marinho, foi procurado e decidiu se juntar ao grupo.
Para Carlos Lopes, este vai ser o início de uma jornada para ir construindo as redes.
E não se trata de um movimento institucional: — Não é movimento antagônico à Rio+20, mas pretende ser uma exploração de ideias para mudar a economia. Que ela seja mais ecológica e humanizada — disse Lopes.
FONTE: O GLOBO
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