O projeto original do ex-presidente Lula de uma forte candidatura do seu grupo à prefeitura de São Paulo – capaz de superar a resistência ao petismo predominante na cidade e de encaminhar a disputa como etapa do plano maior de conquista do governo do estado em 2014 – tal projeto, bem como as articulações iniciais dele nesse sentido, passavam pela atração do prefeito Gilberto Kassab, pela indicação de um nome do PT com imagem de “novo” e bem assimilável pelo eleitorado e pela entrega da candidatura a vice a um aliado em condições de cumprir papel semelhante ao do empresário José Alencar na campanha presidencial de 2002 e 2006.
O script começou com o sacrifício da candidata natural do partido, Marta Suplicy, que, segundo a avaliação dele, manteria a polarização política e social verificada nos últimos pleitos, com os resultados conhecidos, bloqueando um avanço do lulismo em direção ao centro. Mas sofreu um duro e inesperado tropeço com a inviabilização da expectativa de aliança com Kassab em decorrência do lançamento da candidatura de José Serra – circunstância, descartada no projeto, que recolocou o prefeito no campo do governador Geraldo Alckmin. E esse roteiro teria de ser completamente deixado à margem no caso da manutenção da deputada Luiza Erundina como companheira de chapa de Haddad, com seu discurso de agudo teor esquerdista. Discurso bem resumido em reportagem da Folha de S. Paulo, de sábado, intitulada “Erundina compara eleição a luta de classes”. Da qual seguem-se alguns trechos: “Ela defendeu a implantação do modelo socialista no país, disse que a classe trabalhadora não deve disputar apenas ‘espaço de poder no estado burguês’ e afirmou que percorrerá ‘favelas e cortiços para pedir votos”. “A ex-prefeita também condenou os meios de comunicação brasileiros e elogiou o governo de Cristina Kirchner na Argentina – que ‘avançou significativamente no enfrentamento dos poderosos da mídia’, segundo ela”. Dois dias depois dessa entrevista, Erundina reagiu irada ao encontro de Lula e Haddad com Paulo Maluf, na casa deste, para chancela do apoio do PP à chapa petista.
Com a desistência de Erundina de participar da disputa, ou mais precisamente com o afastamento dela, conforme resultado do encontro que teve anteontem com a direção nacional do PSB, o substituto ou substituta poderá ser alguém desse partido, que não reivindica mais o cargo de vice, ou de outra legenda da aliança já formada, ou de sua ampliação. A perspectiva de um nome do PC do B, com a desistência da candidatura de Netinho, favoreceria essa ampliação, mas provavelmente não é uma alternativa do agrado de Lula. Para ele, que decerto não se incluiu entre os que apelaram à ex-prefeita para se manter candidata, embora o afastamento dela tenha forte desgaste imediato, sobretudo em áreas de esquerda e nas do PT paulistano vinculadas a Marta Suplicy – que se juntou a Erundina na condenação à aliança com Maluf -, isso será esquecido ou minimizado ao longo da campanha. E poderá ensejar-lhe uma reorientação, ao menos parcial, da chapa de Haddad em direção ao majoritário eleitorado de centro. Pela aposta que ele faz nos ingredientes de ampla coligação de apoio, que propiciará maior tempo de propaganda de TV e rádio, e da promessa de generoso apoio do governo federal a um prefeito do PT.
Amplitude e promessa que de fato poderão levar seu candidato ao 2º turno, mas que provavelmente será insuficiente para garantir-lhe uma vitória na disputa com o tucano José Serra. Até porque, além da boa avaliação do governo Alckmin, e da competitividade de Serra, há outro ingrediente, adverso e significativo, no cenário político-eleitoral do segundo semestre – o julgamento do processo do mensalão.
Jarbas de Holanda é jornalista
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