Movimentos sociais fazem protestos no entorno do Riocentro e na Avenida Rio Branco, atraindo milhares de pessoas; trânsito só não ficou pior devido ao clima de feriado
Diego Barreto, Flavia Milhorance, Gustavo Goulart e Leandra Lima
As ruas do Rio se transformaram em palco para diferentes manifestações no primeiro dia da cúpula de chefes de Estado e de governo da Rio+20. Levantando diferentes bandeiras e uma pluralidade de reivindicações, milhares de pessoas se reuniram em duas grandes marchas na Zona Oeste e no Centro.
A primeira aconteceu a cerca de 500 metros do Riocentro e criou um clima de tensão. Cerca de dois mil moradores da Vila Autódromo, além de integrantes da Cúpula dos Povos e de movimentos sociais de todo o país, protestaram contra a remoção da favela, que está numa área que receberá instalações dos Jogos de 2016. Os manifestantes caminharam pela Avenida Embaixador Abelardo Bueno e chegaram até o limite de isolamento na Avenida Salvador Allende. Policiais do Batalhão de Choque chegaram a formar uma barreira, mas não houve confronto.
O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, passou pelos manifestantes e chegou a parar para dialogar com líderes do ato, coordenado pela Via Campesina.
- São pessoas de luta, gente séria, que reivindica os seus direitos. Estou muito bem no meio deles - relatou o ministro.
Ficou acertado um encontro entre os manifestantes e os representantes da ONU e do governo federal no Riocentro. O grupo deve entregar um documento com soluções para a situação da Vila Autódromo.
Dentro do Riocentro, jovens também organizaram um ato pedindo a reabertura das negociações do documento que será assinado pelos chefes de Estado no fim da conferência. Cerca de 30 pessoas vestindo camisas vermelhas formaram uma linha e levantaram cartazes com a frase "This is our red line" (Esta é a nossa linha vermelha).
No fim da manhã, funcionários da Cedae em greve também fizeram uma passeata na pista central da Avenida Presidente Vargas, sentido Candelária. O trânsito de ônibus do BRS precisou ser deslocado para as demais faixas.
Duas horas depois, a Avenida Presidente Vargas voltou a ficar congestionada, dessa vez para a concentração da Marcha Global da Cúpula dos Povos, manifestação que reuniu maior número de pessoas na tarde de ontem. Segundo estimativas da Polícia Militar, 20 mil pessoas participaram da passeata, que partiu da Avenida Presidente Vargas e seguiu pela Avenida Rio Branco até a Cinelândia.
Na passeata, reivindicações de brasileiros e estrangeiros
Integrantes de movimentos sociais brasileiros e internacionais, ONGs, grupos jovens e aldeias indígenas protestaram pelas mais diversas causas. Foi possível ouvir palavras de ordem que iam do fim do desmatamento a melhores salários em repartições públicas, passando pela defesa do feminismo e de comunidades quilombolas.
Apesar das reivindicações específicas, um consenso dominou a passeata: a indignação com o resultado das negociações para aprovação do "Rascunho Zero", votado pelos chefes de Estado desde ontem na conferência.
Paulo Adário, diretor da campanha amazônica do Greenpeace, disse que os mais de cem manifestantes da ONG foram à Rio Branco defender o desmatamento zero de florestas nativas, mas protestaram, sobretudo, pelo "fracasso" do Brasil na elaboração do documento:
- Faltaram ambição e consistência no documento, tivemos um resultado pífio. A presidente Dilma considera vitória o que o restante do Brasil considera um fracasso.
Mesmo envoltos num turbilhão de causas defendidas simultaneamente, sete integrantes do Ocupa Rio conseguiram chamar a atenção para as ideias do movimento - que é contrário ao capitalismo - ficando completamente nus e expondo frases de efeito pintadas em seus corpos.
- Realizamos o "peladaço" como forma de ir contra o modelo padrão de moral imposto pelas regras patriarcais e capitalistas da sociedade - explicou Nicoli Krieger, uma das integrantes que aderiu ao protesto.
O entorno do Riocentro, onde vias como as avenidas Embaixador Abelardo Bueno e Salvador Allende tiveram o fluxo bloqueado desde o início da manhã, para a chegada das comitivas oficiais da Rio+20, sofreu com retenções durante toda a manhã. O mesmo aconteceu no entorno das avenidas Presidente Vargas e Rio Branco, por causa das interdições para a Marcha Global. Mas, no restante da cidade, o ponto facultativo alcançou o objetivo de retirar veículos das ruas. A exceção foram as saídas do Rio, que registraram congestionamentos por causa do movimento de pessoas deixando a cidade para aproveitar o "feriadão verde".
Segundo o secretário municipal de Conservação, Carlos Roberto Osório, os planos de contingência da prefeitura para as interdições planejadas por causa das manifestações e as mudanças no trânsito têm funcionado, mas, ainda assim, os cariocas devem ter paciência:
- Reiteramos que os cariocas usem o transporte público e que deixem seus carros em casa. Mesmo com os planos de contingência, que têm funcionado bem, não há como fechar uma via sem causar reflexos. Os cariocas precisam ter paciência.
Ontem chegaram à cidade 59 comitivas para a Rio+20. Hoje são aguardadas mais 21 delegações, entre as quais a que trará a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, que deve desembarcar no Galeão entre o fim da noite de hoje e o início da madrugada de amanhã.
FONTE: O GLOBO
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