BC cita indexação que, segundo analistas, afeta 42% dos preços. Mercado prevê juro maior
BRASÍLIA e RIO - O Banco Central (BC) acelerou a alta dos juros, na semana passada, de 7,5% para 8% ao ano, porque a inflação está mais forte, persistente, tende a crescer e está contaminando as expectativas de investidores e consumidores. Num tom mais duro que o usual, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) destacou ainda "mecanismos formais e informais de indexação" na economia e mencionou as expectativas do mercado sobre a inflação como um destes mecanismos. A ata fez o mercado revisar suas estimativas para juros, e alguns analistas já preveem que a Taxa Selic vá chegar a até 10% ao ano ainda este ano.
Quase 20 anos depois do Plano Real, especialistas afirmam que os preços ainda são fortemente indexados no país, o que torna mais difícil o controle da inflação. Estimativa do professor de Economia da PUC-Rio Luiz Roberto Cunha indica que 42% dos 365 itens que compõem o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, usado nas metas de inflação do governo) têm algum tipo de indexação. Parte vem de serviços (26%, principalmente ligado ao salário mínimo) e parte (16,1%) de preços administrados, ou seja, que são controlados pelo governo
- A indexação é uma realidade no país, ainda que hoje seja menos intensa e ampla do que já foi.
Cunha avalia que o efeito das expectativas sobre a inflação tem peso maior no Brasil que em outros países por conta do histórico inflacionário e dos 30 anos vividos com forte indexação (1964-1994)
- Estamos com quase 20 anos de inflação relativamente baixa e é só os preços darem uma acelerada que aparece alguém para falar de indexação salarial. Por isso, é perigoso aceitar um pouco mais de inflação - diz o economista-chefe do ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal.
Analista critica meta de inflação "tabelada"
Na avaliação do professor da FEA-USP Heron do Carmo, a indexação ocorre também pelo reajuste do salário mínimo e por títulos públicos atrelados a índices de preços e taxas de juros.
- Isso sem falar na indexação pelas expectativas, que são muito mais arraigadas que em outros países. O problema é que a inflação fica mais rígida e os choques são mais persistentes.
Ele critica o fato de o governo trabalhar com a mesma meta de inflação (4,5%, com margem de tolerância de dois pontos percentuais para baixo e para cima) desde 2006.
- Estamos com 18 anos de Real e é hora de mudar. Não tem cabimento tabelar a meta de inflação, que é a mesma há anos. Precisamos estabelecer um escalonamento para trazer o teto da inflação para 4%. Isso vai ajudar a indexação a perder força.
Na ata divulgada ontem, o BC disse que a decisão "tempestiva" de elevar a Selic, por unanimidade, de 7,5% ao ano para 8%, contribuirá para por a inflação em declínio e assegurar que a tendência persista em 2014. "Tendo em vista os danos que a persistência desse processo causaria à tomada de decisões sobre consumo e investimentos, faz-se necessário que, com a devida tempestividade, o mesmo seja revertido", afirmou o Copom. "Para tanto, o comitê entende ser apropriada a intensificação do ritmo de ajuste das condições monetárias ora em curso".
Para o economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, o BC acertou a mão na coordenação de expectativas. Segundo ele, a comunicação mais clara e num tom acima, que levou os economistas a afirmarem que haverá ao menos mais dois aumentos de meio ponto percentual este ano. Ele chamou atenção para um detalhe na decisão do Copom: a unanimidade. Na reunião anterior, em abril, dois diretores votaram pela manutenção dos juros. E a maioria decidiu pela alta de 0,25 ponto percentual, que levou a Selic para 7,5% ao ano.
Para o economista da CM Capital Markets, Darwin Dib, o BC deve fazer mais duas elevações na Selic, de 0,5 e de 0,25 ponto percentual, com a taxa encerrando 2013 em 8,75%, mesmo patamar esperado pelo Itaú Unibanco. A consultoria LCA, que previa 8,75% até o fim do ano, agora aposta em algo entre 9% e 10%.
Fonte: O Globo
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