Um dos atuais exercícios de políticos e analistas é o de tentar adivinhar o quanto a prorrogação do julgamento da AP 470, o mensalão, deverá interferir nas eleições do próximo ano. Respostas apressadas, tanto negativas quanto positivas, são irrelevantes, por tratarem de meros chutes. Prognósticos assim funcionam como debates de mesa de bar, ninguém leva nada muito a sério. A única forma de tentar antecipar os riscos para Dilma Rousseff e os candidatos petistas nos estados é avaliar os últimos lances eleitorais com o escândalo na mídia, um período que corresponde às campanhas de 2006, 2008, 2010 e 2012. Um intervalo considerável, com trocas de cenários e personagens.
O que se percebe é que, nos últimos sete anos, o mensalão atrapalhou pouco os petistas, por mais emblemático na história da corrupção política brasileira. Nas eleições de 2006, por exemplo, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisou encarar um segundo turno com o tucano Geraldo Alckmin para se reeleger. Ao longo da campanha, o PSDB trabalhou intensamente com o tema do mensalão, a ponto de, no primeiro debate do segundo turno, Lula ter terminado abatido, nervoso.
Especialistas em campanhas políticas atribuíram a prorrogação da eleição de 2006 ao escândalo dos mensaleiros, o que era razoável supor, afinal o petista acabou caindo justamente entre os eleitores de maior escolaridade e renda, como mostraram pesquisas de 2005, logo depois do escândalo, e ao longo de 2006. É até possível sugerir também uma decepção irreversível de uma pequena parte do eleitorado. Que o mensalão — incluindo o "escândalo dos aloprados" — abalou Lula e os petistas não há qualquer dúvida. No tal primeiro debate de 2006, o então presidente nem ao menos deu "boa noite". Ao longo da campanha, entretanto, o petista se recuperou e conseguiu colar no tucano a pecha de "privatista".
Menos baixas
Mesmo na campanha para a Câmara de 2006, o PT não sofreu tantas baixas. Foram três parlamentares a menos se comparados a 2002, uma queda de 4%. Em 2010, Lula conseguiu eleger Dilma. Sem denúncia que o atrapalhasse. Dois anos depois, em 2012, em pleno julgamento do mensalão no STF, o ex-presidente emplacou o ex-ministro da Educação Fernando Haddad prefeito de São Paulo, derrotando um dos principais nomes da oposição na maior capital do país, o tucano José Serra. A popularidade perdida por Dilma nos últimos meses nada teve a ver com o julgamento do mensalão. O prejuízo — e a própria recuperação — deve ser debitado na própria conta da petista.
Por fim, no exercício descrito no início deste texto, analistas — principalmente os da oposição — acreditam que a continuação do julgamento em plena campanha desgastaria Dilma por causa das prisões de mensaleiros. Aqui, mais uma vez, o chute. Não se sabe quando o processo vai chegar ao fim. Por mais que todos os sinais do ministro do STF Celso de Mello sejam os de prorrogar o julgamento, tudo pode acabar na próxima quarta-feira. Caso contrário, ficará em aberto, podendo terminar ainda no primeiro semestre do próximo ano ou se arrastar ainda mais. O fato é que, em qualquer momento, mensaleiros podem ir para cadeia. E não há nada mais devastador para a imagem de um político do que estar na prisão. Daí a atrapalhar Dilma é outra história. Os fatos relacionados ao escândalo nos últimos sete anos mostram que até hoje mensalão e eleição não passam de uma rima.
Outra coisa
As reportagens de João Valadares e Breno Fortes, publicadas nesta semana pelo Correio, revelam a falta de prioridade na compra de aeronaves da Polícia Federal. Apenas o descontrole e a ausência de planejamento explicam a aquisição de um helicóptero de quase R$ 30 milhões sem ter piloto capacitado para operar o modelo ou mesmo um contrato de manutenção previsto. E pior, dois outros aparelhos, de menor porte, simplesmente não voam há mais de dois anos. Enquanto o Ministério da Justiça, que comanda a PF, não consegue explicar o até agora inexplicável caso, resta aguardar as cenas dos próximos capítulos.
Fonte: Correio Braziliense
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