Governador planeja repetir Lula e divulgar documento no início da campanha para deixar clara ao mercado sua plataforma econômica
Conrado Corsalette, Malu Delgado
Provável candidato à Presidência em 2014, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), planeja divulgar no início da campanha, em meados do ano que vem, documento no qual pretende deixar "claras" suas intenções na condução da economia do País caso venha a ser eleito.
"Queremos deixar muito claro qual é a nossa visão sobre a economia e o futuro do Brasil", afirma Campos, que usa o verbo na primeira pessoa do plural exatamente para incluir a mais nova parceira, a ex-ministra Marina Silva, que tem boa interlocução com alguns grupos econômicos construída por conta da disputa presidencial de 2010.
A dupla Campos-Marina articula revisitar a estratégia da "Carta ao Povo Brasileiro", apresentada em 22 de junho de 2002 pelo então candidato ao Palácio do Planalto Luiz Inácio Lula da Silva. O petista, na época, enfrentava sérias desconfianças por parte do mercado financeiro e de investidores internacionais por causa de antigas posições radicais de seu partido. Seu objetivo com a divulgação da "Carta" era assumir o compromisso de que os contratos em vigor seriam cumpridos e de que não faria aventuras na área econômica, a despeito das promessas de mudar o Brasil.
Campos, que ideologicamente se define à esquerda do ex-presidente Lula, mas à direita da atual presidente, Dilma Rousseff, j á iniciou um périplo de visitas a empresários brasileiros a : fim de mostrar o que pensa da economia. Tenta explorar queixas frequentes do empresariado ; em relação a Dilma, segundo as quais não há um ambiente seguro para investimentos privados : sob o atual governo e falta clareza sobre marcos regulatórios, além da "ineficiência" de gestão.
"Há neste instante no País uma grande crise de expectativa, que vem de muitas atitudes tomadas pelo governo em relação a marcos legais sobre setores da economia, posturas do governo que o mercado muitas vezes não compreende. Precisamos vencer essa crise de expectativa", diz o governador.
A inquietação é interna e externa, afirma Campos. Por isso, no documento que pretende apresentar no ano que vem, deverá dar sinais também ao mercado externo "para que essas expectativas possam ser revertidas e ajudar o Brasil a retomar a expansão econômica".
Agora, após a recente parceria com Marina, Campos também busca dissipar temores sobre as posições da aliada, principalmente em relação a eventuais restrições ao desenvolvimento motivadas pela bandeira ambiental. Em ação combinada com o governador, Marina foi a : público criticar a presidente e defender o tripé macroeconômico criado no governo tucano de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) superávit primário, meta de inflação e câmbio flutuante.
A dupla quer se apresentar como a alternativa que vai respeitar a estabilidade econômica criada por FHC e a inclusão so-ciai iniciada por Lula. "Um novo ciclo se inicia, uma nova agenda. Não podemos colocar em risco a democracia, a estabilidade ou a inclusão. Quem pode fazer isso? Quem tem a visão equilibrada? É isso que queremos oferecer ao debate", afirma o governador.
A "carta" de Campos, além de reforçar compromissos macroeconômicos, deve apresentar uma plataforma de gestão.
"Pais" do real em campos distintos
O Plano Real, que acabou com a hiperinflação e com isso aju-j dou a fazer de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) presidente da República em 1994, teve quatro "pais". Vinte anos depois, os quatro formuladores entram no ano eleitoral de 2014 divididos.
Enquanto Edmar Bacha e Gustavo Franco continuam cerrando fileiras com o PSDB - Bacha, inclusive, participa ativamente do grupo em torno de Aécio Neves, o virtual pré-candidato tucano à Presidência da República-, André Lara Resende é um dos economistas mais próximos de Marina Silva (PSB). Recém-filiada ao partido, Marina deverá compor chapa com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
Para completar o quarteto que criou o Real, o economista Pérsio Arida é um dos sócios do banco BTG, uma das instituições mais próximas da gestão Dilma Rousseff.
O fundador cio BTG, André Esteves, é um dos banqueiros com maior interlocução com o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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