Presidente não quer marola na economia na campanha
Quando começou o ano de 2013, o senador Aloizio Mercadante era nome certo para a Casa Civil. Em abril, era virtual primeiro-ministro do governo Dilma Rousseff. Na sequência das manifestações de junho estava no sal, responsabilizado pelas respostas atrapalhadas do governo aos protestos. Entrou na muda e por volta de outubro seu prestígio voltou a crescer no Palácio do Planalto. Desde a semana passada estava de volta à Casa Civil, mas já não mais na condição de todo poderoso primeiro-ministro.
Aloizio Mercadante será um ministro forte, como é todo chefe da Casa Civil, posto-chave do governo, mas com raio de alcance limitado. O atual ministro da Educação, por exemplo, está orientado a pensar dez vezes antes de se manifestar sobre assuntos da esfera de seu colega da Fazenda, Guido Mantega. E Mercadante fez carreira no PT como conselheiro de política econômica do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo menos até a eleição de 2002. É atribuído a ele o erro de avaliação (não vai dar certo) de Lula sobre o Plano Real, na eleição de 1994.
Eleito, Lula trocou de conselheiro. Entrou Antonio Palocci mas o senador pelo PT de São Paulo nunca deixou de dar opinião sobre o assunto. Afinal, é economista. No governo Dilma foram registradas diferenças acentuadas entre Mercadante e Mantega. O ministro da Educação, à época em que era chamado de primeiro-ministro, teria inclusive tentado armar uma articulação para a substituição de seu colega da Fazenda. Pegou muito mal.
Hoje já não é o mesmo o prestígio de Mantega no governo: seu desempenho na crise de 2008 e sua lealdade à presidente Dilma Rousseff são amplamente reconhecidos, mas ele é considerado um ministro com a validade vencida. Nos mercados e no Palácio do Planalto. Dilma, no entanto, não pensa tirar Guido Mantega do Ministério da Fazenda até o fim do mandato. Até por companheirismo. E também não quer marola na economia, em plena campanha eleitoral, além daqueles problemas com os quais terá de lidar concretamente, como inflação e desemprego.
O auge do prestígio de Mercadante se deu entre março e abril do ano passado, quando parecia onipresente nos assuntos de governo. O senador, não custa lembrar, era um dos integrantes da comitiva da presidente que viajou para a posse do papa Francisco. A virada se deu após as manifestações de junho. Dilma propôs os cinco pactos, entre os quais a convocação de uma assembleia constituinte exclusiva para fazer a reforma política. No calor da crise, Mercadante declarou que o Congresso iria pagar a conta, se não ouvisse a voz das ruas. Ou seja, se não fizesse a reforma como o governo queria, por meio da constituinte exclusiva, ideia condenada, em uníssono, por juristas e políticos.
O ministro da Educação deu a cara para bater, é verdade, mas foi inábil e ficou mal até com colegas de ministério. O próprio ministro da Saúde, Alexandre Padilha, sentiu-se desconfortável com a naturalidade com que Mercadante tratou de assuntos referentes a sua pasta. Naqueles agitados dias ainda foi acusado de conspirar contra Guido Mantega. Passou julho, chegou agosto e junho parecia não ter um fim.
Mercadante mergulhou e começou um trabalho de reaproximação com o PT. Sorte do senador é que "estar mal com o PT", para Dilma Rousseff, que não é petista, muitas vezes é uma vantagem. Em outubro, algumas das propostas dos cinco pactos já não pareciam tão ruins assim: a necessidade de reforma política era consensual e o programa Mais Médicos, um sucesso. É claro que o governo - e o ministro - deixaram pra lá assuntos espinhosos como a constituinte exclusiva e a reforma tributária, que continua tão empacada como sempre esteve no Congresso. Desde então Mercadante está exposto ao sereno, um alvo fácil que não foi atingido de morte.
Resta saber quais serão seus poderes e limites na Casa Civil da Presidência da República. Como acontecia com Antonio Palocci, em sua breve passagem pelo cargo, é evidente que o senador paulista dará palpites sobre a economia, mas não pode atropelar o ministro da Fazenda. É encrenca. Deve tomar cuidado inclusive porque Dilma não deixa dúvidas sobre quem manda no governo, seja qual for o assunto. Inclusive a economia.
Frequentadores do Palácio da Alvorada dizem que Dilma precisa, próximo dela, de ministros que estimulem a moderação da presidente, cujo temperamento é do conhecimento de todos. Era o que se esperava de Antonio Palocci, e o que Mantega decididamente não fez. Discreta, Gleisi Hoffmann, a ministra que está deixando o cargo para disputar o governo do Paraná, passou ao largos dos assuntos econômicos, tratou de infraestrutura e concessões e assumiu a face técnica da Casa Civil. Mas internamente, e sempre atendendo a Dilma, nunca deixou de fazer política, falar com os caciques do Congresso e os governadores, sem no entanto atropelar Ideli Salvatti, oficialmente a coordenadora política do governo. A reclamação de Dilma, em relação a auxiliar, é que ela era sempre a última a falar em defesa do governo. Esse é um problema que a presidente da República certamente não terá com Aloizio Mercadante. Na realidade, talvez tenha até que conter o impetuoso ministro.
O PT quer a cabeça do secretário de Indústria, Comércio e Mineração da Bahia, James Correia, que teria conversado ao telefone com o ex-ministro José Dirceu, preso numa penitenciária de Brasília. Se o secretário de Jaques Wagner mentiu, prejudicou Dirceu; se falou, também: foi aberta uma sindicância para apurar se o ex-ministro efetivamente teve acesso a um telefone na prisão. A expectativa da defesa de Dirceu era que ele pudesse deixar a penitenciária da Papuda logo após o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, que já está cumprindo o regime semiaberto: trabalha durante o dia na CUT e à noite dorme no presídio. A sindicância deve atrasar em pelo menos 15 dias o pedido de Dirceu para trabalhar num escritório de advocacia de Brasília.
Fonte: Valor Econômico
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