Raquel Ulhôa
BRASÍLIA - Com a confirmação da aliança entre os ex-governadores José Roberto Arruda (PR) e Joaquim Roriz em torno de uma chapa para disputar o governo do Distrito Federal - encabeçada pelo primeiro e tendo como candidata a vice a deputada distrital Liliane Roriz (PRTB) -, o cenário eleitoral na capital do país que vai se delineando é preocupante para a campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição.
Pelos entendimentos mantidos entre os partidos, que agora se intensificam, a tendência é de lançamento de quatro candidatos a governador e o atual ocupante do cargo, Agnelo Queiroz (PT) - palanque de Dilma no DF -, corre o risco de ficar de fora do segundo turno.
Arruda lidera as pesquisas de intenção de voto para governador. Integra um partido da base de Dilma e terá na chapa um aliado da presidente: o senador Gim Argello (PTB), que disputará a reeleição. Mas é uma chapa de oposição a Agnelo. Seus aliados buscam atrair o PSDB para a coligação. As chances são zero, segundo tucanos, e a disposição do PSDB é lançar candidato próprio a governador.
Os tucanos estão de olho nos votos de Arruda no Distrito Federal, mas há preocupação com eventuais prejuízos que uma aliança do senador Aécio Neves (PSDB-MG) com o ex-governador possa trazer à sua campanha à Presidência da República.
Mesmo sem uma aliança formal entre o PR e o PSDB no Distrito Federal, a tendência do eleitor de Arruda é votar em Aécio. De acordo com analistas, uma aliança entre Arruda, Roriz e o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), poderia dar um milhão de votos de diferença para o candidato a presidente da República.
O Distrito Federal tem apenas 1,3% do eleitorado, mas essa diferença de votos viria também das cidades do entorno de Brasília, onde há um eleitorado flutuante de Goiás, que congrega 2,9% do nacional. Há alguns meses, Perillo, que disputará a reeleição, deu início a uma articulação para unir Roriz e Arruda.
Embora tenha mantido a aliança com o PMDB do vice-governador Tadeu Filipelli, Agnelo Queiroz disputa a reeleição com baixo desempenho nas pesquisas de intenção de voto, alta rejeição e uma administração considerada ruim e péssima por 60% dos eleitores, segundo pesquisa do Ibope.
O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, pressiona o partido no DF a apoiar Agnelo, mas o diretório local está dividido em duas opções: candidatura própria - do deputado federal José Antônio Reguffe, que lidera as pesquisas para o Senado - ou aliança com o senador Rodrigo Rollemberg (PSB), tendência considerada atualmente a mais forte por dirigentes locais, apesar das pressões de Lupi.
Aliado do pré-candidato do PSB a presidente, governador Eduardo Campos (PE), Rollemberg tenta construir uma coligação com o PDT, o PSOL e partidos menores. A sustentação de Campos no Distrito Federal conta com o forte capital eleitoral da ex-ministra Marina Silva, provável candidata a vice-presidente na chapa do PSB.
Nas eleições de 2010, então disputando a Presidência da República pelo PV, Marina ficou em terceiro lugar nacional no primeiro turno, mas venceu Dilma e José Serra (PSDB) no DF. Foi o único local da federação em que saiu vitoriosa, com 42% dos votos (611.462).
O palanque de Eduardo Campos no DF se tornará mais robusto caso se confirme a aliança de Rollemberg com o PDT. As conversas estão sendo mantidas principalmente com Reguffe e o senador Cristovam Buarque (PDT), inicialmente defensor de candidatura própria do PDT a governador. Marina também defendia apoio de seu grupo - que com ela tenta criar um novo partido, o Rede Sustentabilidade - à candidatura de Reguffe a governador.
Mas, agora filiada ao PSB, Marina e o grupo discutem a possibilidade de coligação com Rollemberg. Uma das vantagens é que o senador tem o apoio do seu partido e de Campos à sua candidatura, o que pode não acontecer com Reguffe e seu PDT. Outro ponto a favor de uma chapa encabeçada por Rollemberg é o fato de ter mais possibilidade de atrair legendas para a coligação.
O PSDB está dividido. O nome do deputado federal Luiz Pitiman tem sido o mais cotado entre os postulantes à candidatura própria ao governo do DF, mas não tem apoio da maioria da Executiva local. A aliança do PSDB deverá ser com o DEM. Aliados de Aécio, no entanto, estão certos de que ele contará com os votos de Arruda, cuja candidatura tende a enfraquecer ainda mais a campanha de Agnelo.
Interlocutores do ex-governador conversam com o PSDB, mas também com setores do PT - especialmente pessoas ligadas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem Arruda preservou relações. Aliados dele dizem que, se o candidato do PT a presidente fosse Lula, o palanque poderia ser aberto ao ex-presidente.
Para o eleitor que não mora em Brasília, surpresa maior deve ser a disposição de Arruda de retornar ao governo do DF, cargo do qual foi afastado em 2010, início do quarto ano do mandato que então exercia, após denúncias de um esquema de corrupção no DF, que ficou conhecido como "mensalão do DEM". Era filiado ao DEM e deixou a legenda.
Arruda chegou a ficar preso preventivamente cerca de dois meses, na Polícia Federal em Brasília. Em março de 2010, teve o mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) por infidelidade partidária.
Antes de chegar ao governo do DF, em 1994, Arruda foi eleito senador (eleito pelo PP, com apoio de Roriz, e depois foi para o PSDB). Como líder do governo Fernando Henrique Cardoso, envolveu-se em um escândalo da violação do painel de votações (na sessão de cassação do ex-senador Luiz Estêvão, então PMDB), junto com o então presidente da Casa, Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA). Por causa do episódio, Arruda renunciou ao Senado em 2001, para escapar de processo de cassação do mandato.
Em 2002, foi eleito deputado federal pelo ex-PFL (depois DEM), recebendo a maior votação do país em termos proporcionais. Em 2006, foi eleito governador em primeiro turno. Em 2009, a Polícia Federal realizou a operação "Caixa de Pandora", investigando pagamentos do GDF a parlamentares. Um vídeo mostrando Arruda manuseando dinheiro foi divulgado, mas, de acordo com seus advogados, a cena mostrada era de dois anos antes, e o dinheiro era relativo a doações e havia sido registrado no TRE.
Em 2013, a Procuradoria-Geral da República denunciou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) 37 pessoas suspeitas de envolvimento no "mensalão do DEM" e Arruda foi apontado como chefe da suposta organização criminosa. Ele sempre negou e seus aliados dizem que ele foi vítima de um "golpe" para afastá-lo do governo e o PT vencesse as eleições no DF em 2010. Em 2013, foi condenado pela 4ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do DF por dispensa indevida de licitação para uma obra de reforma em ginásio de Brasília.
Apesar do histórico, pelo menos até agora não há fato que impeça a elegibilidade de Arruda. Ele foi cassado por infidelidade partidária, o que se enquadra entre as restrições da lei da "Ficha Limpa" e não tem condenação em segunda instância. A aceitação de sua nova candidatura pelo eleitorado deve-se à rejeição da administração de Agnelo.
Fonte: Valor Econômico
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