Fábio Brandt
BRASÍLIA - Dentro do PSB existem duas opiniões divergentes sobre a proposta que o presidenciável do partido, Eduardo Campos, precisa fazer para a política externa do seu governo se vier a ser eleito presidente. Uma delas é encampada pelo vice-presidente e coordenador de relações internacionais do PSB, Roberto Amaral. Segundo ele, o programa de Campos deve reforçar a estratégia dos governos petistas de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff: focar as relações exteriores na América do Sul, deixando outras regiões, incluindo Europa e Ásia, em segundo plano. De forma diferente pensa o líder do partido na Câmara dos Deputados, o gaúcho Beto Albuquerque. Para ele, um governo de Eduardo Campos precisaria expandir a atuação, apressando-se para ter um acordo com a União Europeia e evitando ficar isolado no Mercosul.
Esse debate deve ganhar corpo entre os integrantes da cúpula do PSB após 4 de abril, quando a sigla dará mais atenção à formulação do programa de governo de Eduardo Campos. É nesta data que ele deixará seu atual cargo de governador de Pernambuco para se dedicar exclusivamente à preparação da campanha presidencial, o que inclui a montagem das equipes que o ajudarão a pensar nas propostas para cada área do programa. O time ainda não está pronto porque, neste momento, a prioridade do PSB é encontrar acordos com os aliados do Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, sobre os candidatos que lançarão ou apoiarão juntos nas eleições estaduais.
Roberto Amaral e Beto Albuquerque fazem parte da cúpula do PSB e do círculo político próximo a Eduardo Campos. Ambos poderão influenciar o candidato. Questionado sobre as divergências a respeito da política externa, Beto Albuquerque afirma que as posições "não são conflitantes" e que "o programa se faz com a soma de todas as propostas".
Para o deputado, a opinião de Roberto Amaral deve ser tomada como referência no partido. Mas, segundo ele, o PSB precisará levar em conta que as "relações internacionais de um partido são feitas com viés mais ideológico e as relações internacionais do governo têm que ser de acordo com os interesses do país". "Não se pode transformar os horizontes comerciais do Brasil em uma coisa só da América do Sul. Não se pode excluir regiões. O Brasil não pode ficar assistindo os EUA pactuarem um acordo com o mercado europeu, que é um tiro é no coração de setores da indústria brasileira", diz o deputado.
Amaral, ex-ministro da Ciência e Tecnologia de Lula, afirma que "nenhum país capitalista se desenvolveu sem ter uma área de atuação prioritária". Essa área, para ele, é a América do Sul. "O governo [do PT] está acertando. Mas devemos aprofundar, fazendo o que o governo não está fazendo, que é a integração."
Amaral usa o exemplo da atual relação comercial entre Brasil e Argentina para justificar sua proposta. Diz que os vizinhos são grandes parceiros comerciais e que a maior parte dos produtos brasileiros que eles compram são industrializados, com tecnologia agregada. Já os europeus e chineses compram produtos primários. "Como vamos desenvolver a indústria assim?", questiona.
Fonte: Valor Econômico
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