Marcos de Moura e Souza
BELO HORIZONTE - A sete meses das eleições, o senador e pré-candidato à presidência Aécio Neves (PSDB-MG) formou um grupo de colaboradores mais próximos para ajudá-lo na elaboração das propostas de sua campanha. Vários deles estiveram no primeiro escalão do governo do tucano Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2002); outros são acadêmicos e consultores conhecidos no meio empresarial.
Quem deve sistematizar as sugestões e coordenar o programa de governo é Antonio Anastasia (PSDB), governador de Minas Gerais. Seu nome é o mais citado no partido para a tarefa. Anastasia voltou a Belo Horizonte na quarta-feira de uma viagem de dez dias pela China e em breve deve anunciar que renunciará ao cargo para concorrer ao Senado e para se envolver mais diretamente na campanha de Aécio. O prazo para a desincompatibilização é 4 de abril.
"O senador já convidou várias pessoas, personalidades de várias áreas, que já estão apresentando ideias, na área agrícola, de saúde, economia, relações internacionais. Isso tudo vai ser alinhavado", disse Anastasia ao Valor antes de sua partida para China. Sobre seu papel na campanha, afirmou: "Eu vou ter uma participação no modelo de governança, de aprimoramento de gestão pública, que é a minha especialidade".
Entre as personalidades, o ex-presidente do Banco Central na gestão de FHC e sócio-fundador da Gávea Investimentos, é, segundo tucanos próximos ao senador, seu principal interlocutor para temas econômicos.
"O Armínio é um dos nomes com quem Aécio mais tem conversado", disse o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).
Em suas entrevistas e discursos, Aécio dedica até agora mais espaço a críticas ao governo da presidente Dilma Rousseff (PT) do que à apresentação de propostas. Mas desde o ano passado, sua equipe organiza grupos de trabalho em áreas diversas para reunir ideias para o candidato. O grupo da educação já realizou meia dúzia de encontros e em dezembro apresentou um documento ao senador com eixos de propostas. Outros colaboradores participam da pré-campanha de um jeito ainda informal, trocando ideias diretamente com Aécio ou sua equipe.
Algumas das propostas e sugestões balizaram o documento com 12 pontos apresentados por Aécio em dezembro, em Brasília, e que os tucanos chamaram de bases para uma nova agenda para o país. Antes, num evento do banco BTG, em Nova York, Aécio já havia apresentado um longo diagnóstico também baseado em conversas com alguns de seus conselheiros.
No rol de colaboradores, Aécio Neves incluiu dois ex-ministros de Fernando Henrique, segundo pessoas do grupo do senador: Barjas Negri (que foi ministro da Saúde) e José Carlos Carvalho (Meio Ambiente).
Negri, que sucedeu José Serra na Saúde, atua no governo Geraldo Alckmin (PSDB), de São Paulo. Desde março do ano passado ele é presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), órgão vinculado à Secretaria de Estado da Educação de São Paulo.
Carvalho foi secretário do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável durante parte do segundo mandato de Aécio como governador de Minas Gerais.
Além de Armínio Fraga e dos dois ex-ministros, Aécio conta com Xico Graziano, outro integrante do primeiro escalão de FHC. Graziano, que foi presidente do Incra e chefe do Gabinete Pessoal do presidente Fernando Henrique Cardoso em 1995, primeiro ano do governo tucano, coordena agora o trabalho nas redes sociais e na internet.
Para temas relacionados ao comércio exterior e às relações internacionais, Aécio também buscou um nome do período de FHC. O convidado foi Rubens Barbosa, embaixador do Brasil no Reino Unido entre 1994 e 1999 e nos Estados Unidos até 2004 - período que cobriu os dois mandatos do tucano e o início do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Outro integrante da equipe de FHC convidado a propor ideias é o sociólogo Simon Schwartzman. Ele presidiu o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) durante o primeiro mandato do tucano.
Na avaliação do deputado federal Eduardo Barbosa (PSDB-MG), as propostas de Aécio terão semelhança com as do governo de Fernando Henrique. Principalmente no campo econômico. Mas a campanha buscará também associar o candidato a outra referência, diz ele.
"O PSDB tem ainda uma imagem para parte dos eleitores de que só se preocupa com a questão econômica e como se não desse atenção à área social. O Aécio quer resgatar esse outro lado e dar um peso às duas áreas. Para mim está claro que ele vai abraçar bandeiras sociais." Barbosa coordena ao lado da ex-deputada Rita Camata (PSDB-ES) os grupo de trabalho da educação e assistência social no partido.
Além de acionar grande número de tucanos, Aécio tem entre seus interlocutores nessa pré-campanha alguns nomes de fora da política partidária.
É o caso de Mansueto Almeida e Samuel Pessôa. O primeiro é da Diretoria de Estudos Setoriais e Inovação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o segundo, professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) no Rio. Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, é outro técnico que tem colaborado com Aécio com ideias sobre energia e infraestrutura. Perfil semelhante tem Cláudio Beato Filho, professor da Universidade Federal de Minas Gerais e especialista em estudos sobre criminalidade e violência e com quem Aécio também troca ideias sobre segurança pública. Na área da saúde, quem tem esse traço técnico é André Medici, economista de saúde e funcionário aposentado do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Todos eles são mais conhecidos por seus artigos, análises e declarações na imprensa como técnicos, pesquisadores e especialistas em suas áreas, e menos por seu envolvimento com a pré-campanha tucana.
Na avaliação de um parlamentar que o conhece, Aécio tem evitado detalhar propostas para não queimar ideias antes de 6 de julho, quando a campanha de fato começa. E tem preferido manter sob certa discrição os nomes de seus colaboradores para não alimentar especulações sobre quem ele estaria cogitando para um ou outro cargo numa eventual vitória tucana.
Aécio ganha exposição extra a partir de abril, quando o PSDB terá espaço gratuito em rádio e TV para seu programa partidário. Em maio, exibirá inserções mais curtas na programação diária. Mas até lá a legenda ainda não deve ter um pacote de propostas mais estruturadas. A falta de uma coordenação geral está adiando a definição de um pacote mais claro de propostas. "A gente precisa da coordenação. Hoje os trabalhos estão soltos, estão por iniciativa e ritmo dos próprios grupos", afirma Barbosa.
A expectativa de alguns tucanos é que só em junho, mês em que os partidos farão suas convenções para oficializar seus candidatos, a equipe de Aécio terá um conjunto mais objetivo de propostas. "Quando o Anastasia deixar o governo de Minas, o que deve ocorrer em uns 20 dias, ele assumirá a coordenação da proposta de governo", disse Cássio Cunha Lima. "É ele quem vai fazer essa sistematização e acho que até o fim deste semestre já teremos algo mais claro."
"Estamos no ritmo certo, há um grande número de pessoas que têm de ser ouvidas. O partido é grande, adquiriu experiência no governo federal e em muitos governos locais", disse o senador pelo PSDB de São Paulo, Aloysio Nunes Ferreira.
Fonte: Valor Econômico
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