Raphael Di Cunto – Vallor Econômico
BRASÍLIA - A pressão para que o PSD abandone a presidente Dilma Rousseff e abra formalmente negociações para indicar o vice do senador Aécio Neves (PSDB-MG) na corrida presidencial tem crescido na medida em que são fechados os palanques regionais. Levantamento do Valor PRO , serviço de notícias em tempo real do Valor, mostra o porquê: o PSD está praticamente fechado com candidatos tucanos em oito Estados, enquanto vai apoiar apenas um dos 13 petistas que pretendem disputar governos estaduais.
A diferença pode crescer mais ainda se o vice-governador da Paraíba, Rômulo Gouveia, decidir romper com o governador Ricardo Coutinho (PSB) para se lançar ao Senado na chapa do senador Cássio Cunha Lima (PSDB), e se for considerado o apoio do PSD do Rio de Janeiro ao governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) - que, apesar de dizer em público apoiar a presidente, vê sua base declarar voto em Aécio.
A pressão fez com que o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, marcasse a convenção do partido para o dia 25, em Brasília, já com convite para a presidente Dilma participar. Kassab, fiador do apoio à presidente, tenta acabar com os rumores de que o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles (PSD) poderia ser indicado a vice do PSDB.
O PSD foi o primeiro partido a declarar apoio à Dilma, ainda em 2013, como retribuição à ajuda do governo para aumentar a bancada de deputados federais, que virou a terceira maior da Câmara. O número de deputados é um ativo importante por ser a base de distribuição do fundo partidário e do tempo de propaganda eleitoral na TV.
Mas a formação dos diretórios estaduais teve forte influência de partidos conservadores como o DEM, do qual saiu o próprio Kassab, e do PP, que perdeu parte de sua bancada - e principalmente lideranças locais, como prefeitos e vereadores. A maioria era adversária do PT nas disputas regionais e assim permaneceu quando se filiou ao PSD.
"Na maioria dos Estados PSD e PT são como água e óleo, não se misturam", diz o secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz, ex-deputado pelo DEM que é um dos defensores do rompimento com Dilma dentro do partido. "É a história política de cada um, não tem como mudar", afirma.
A única exceção mais clara nesta relação é a Bahia, onde o governador Jaques Wagner (PT) foi o responsável por construir o PSD com apoio de seu vice, Otto Alencar, que se filiou à nova legenda. E é justamente neste Estado que está o único apoio certo do PSD ao PT, com o deputado federal Rui Costa (PT) ao governo e Alencar ao Senado.
Os petistas, por sua vez, vão inverter essa chapa no Rio Grande do Norte, ao dar apoio à candidatura do vice-governador Robinson Faria (PSD) em troca da deputada Fátima Bezerra (PT) concorrer ao Senado. Os dois partidos também discutiram se aliar em Santa Catarina em torno do governador Raimundo Colombo (PSD), mas, embora ainda seja possível de ocorrer, o histórico de enfrentamentos tornou essa coligação pouco provável.
Há, ainda, chance pequena do PSD apoiar a reeleição do governador Agnelo Queiroz (PT) no Distrito Federal. Contudo, o partido está mais próximo de fechar com o senador Rodrigo Rollemberg, correligionário do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), outro adversário de Dilma em outubro. Aliados de Campos ainda vão coligar com o PSD em dois Estados em que o PT tem candidato próprio.
O PSDB, por sua vez, tem acordos bem encaminhados para receber o apoio do PSD a seus candidatos no Acre, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rondônia e São Paulo. Nem todos estão fechados e em alguns casos dependem da definição de outras candidaturas, mas em seis desses Estados o PSD deve ter espaço na chapa majoritária dos tucanos, com o candidato ao Senado ou a vice.
"Quando o partido foi fundado, isso já estava dito. Ninguém foi eleito pelo PSD e, por isso, não haveria obrigação de seguir o posicionamento nacional nesta eleição. Cada diretório está livre para fazer as composições que melhor ajudarem o partido a crescer e eleger deputados", afirma o presidente do PSD no Paraná, deputado Eduardo Sciarra.
Se parte dos integrantes do PSD defende "pular o muro" e Aécio Neves estimula a traição, o PSDB não tem, entretanto, mostrado reciprocidade. Os tucanos vão lançar o senador Paulo Bauer contra Colombo em Santa Catarina e só discutem coligar com o PSD no Amapá, a despeito da vontade do diretório local do PSDB pedir votos para o PTdoB.
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