• Ministro da Secretaria-Geral da Presidência lembrou de outros políticos hostilizados em estádios, mas se disse surpreendido com um ‘certo rancor’ a Dilma
Germano Oliveira – O Globo
SÃO PAULO - O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, afirmou na noite desta sexta-feira em entrevista à “Globonews” que o governo não se surpreendeu com a vaia, tida como esperada. Segundo Carvalho, motivo de espanto foi o “rancor” dos cidadãos que assistiam ao jogo. Para o ministro, desde as manifestações de junho do ano passado, há uma “pregação ideológica” raivosa, que busca dividir o país.
- Nelson Rodrigues já dizia que em estádio de futebol se vaiava até minuto de silêncio. Sabemos que vaia em estádio é normal. Lula foi vaiado no Pan, Aécio Neves foi vaiado em Minas no jogo Brasil e Argentina. É muito comum essa história de político ser vaiado. Já estava precificado que ela seria vaiada, nós não estranhamos. O que estranhamos um tanto foi a persistência e um certo rancor que se manifestou em alguns momentos durante o jogo. Há na sociedade brasileira um clima muito complexo nesse sentido, de desrespeito, que vai muito além do debate político, da divergência, que nos preocupa a todos, não apenas quem está no governo e a presidenta, e temos de cuidar desse processo – disse.
Para Carvalho, a vaia não foi dirigida a Dilma, mas sim à presidente do país, e seria feita a qualquer um que estivesse no cargo.
- Há, a partir de junho, uma contestação de qualquer padrão de autoridade, que tem de um lado um aspecto positivo, que é uma insurgência contra injustiças, um reclamo muito mais efetivo por serviços públicos de qualidade. Mas junto com isso há uma carga de uma certa pregação, que eu acho ideológica, de raiva, de demarcação de posições que levam a um processo que me preocupa muito, de uma espécie de divisão do país.
Líderes do PSDB e do DEM consideram que houve exagero nos xingamentos à presidente Dilma Rousseff, durante o jogo de abertura da Copa do Mundo, mas avaliam que a irritação dos torcedores é o sinal da desaprovação do governo petista. Para a oposição, há uma insatisfação com a condução do governo, já evidenciada pela queda nas pesquisas de opinião.
O líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira, esteve no estádio na quinta-feira e disse que as vaias surgiram assim que a imagem da presidente Dilma apareceu no telão. Para ele, houve exagero nas palavras utilizadas para hostilizar a presidente, mas ressaltou que o mais surpreendente foi a reação do público por apenas alguns segundos de exibição da imagem da presidente.
- Já se diz que em campos de futebol se vaia até minuto de silêncio. Mas os xingamentos são inaceitáveis.
Os xingamentos foram constrangedores. Mas bastou a simples imagem da presidente, numa fração de segundo, para que o estádio passasse da euforia para uma vaia estrepitosa. Isso mostra o grau de irritação que os brasileiros estão com o governo do PT. É um sinal de que a desaprovação ao governo já atingiu o nível da irritação - disse Aloysio Nunes Ferreira.
Na mesma linha, o líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE), disse que o tom foi inadequado, mas que há ima insatisfação em especial da classe média - que era a maioria no estádio - com os rumos do governo petista. Para ele, a classe média é sempre hostilizada nos discursos de petistas e encontrou uma forma de reagir.
- A vaia é um princípio democrático, mas não vou comemorar o vocabulário usado. Não é aceitável. Mas há um sentimento de revolta muito grande da população. A classe média se sente atingida porque trabalha, é quem mais paga imposto e leva tapa na cara com o superfaturamento dos estádios, os serviços públicos de má qualidade. O problema é que o PT costuma dividir o país entre o bem e o mal e fazem da classe média um Satanás - disse Mendonça Filho.
PT diz que xingamentos foram baixaria
O presidente nacional do PT, deputado Rui Falcão, classificou nesta sexta-feira de "baixaria" os xingamentos e vaias proferidas pelos torcedores brasileiros contra a presidente Dilma Rousseff na abertura da Copa, no Itaquerão. Para ele, as vaias partiram "sintomaticamente" dos setores das numeradas, onde os ingressos são mais caros, não expressando o comportamento da grande maioria do brasileiro, que é bem educado e cordial.
— Os xingamentos começaram nas numeradas quando pediram para que os torcedores aplaudissem os operários que morreram nas obras dos estádios. Sintomaticamente as vaias começaram nas numeradas, cujos ingressos são mais caros e partindo de gente mal educada, que não expressa o comportamento da grande maioria do povo brasileiro, que é educado. A presidenta não estava no estádio como candidata, mas como presidente do país e como tal deveria ter sido respeitada. O que fizeram foi um mau exemplo e não reflete o povo brasileiro, que além de educado é cordial e carinhoso, que sempre recebe bem os visitantes —disse Falcão, que é coordenador da campanha de Dilma à reeleição.
Ele criticou também o "oportunismo" do candidato do PSDB à presidência, Aécio Neves, para quem Dilma está sitiada e que só vai a eventos públicos protegida por seguranças.
— Isso não é verdade. Dilma tem ida a todos os cantos deste país e tem sido bem recepcionada. Mas o próprio Aécio já foi vitima de vaias e xingamentos num estádio em Minas Gerais quando a multidão dizia que ele cheirava mais que Maradona. Eu não gostaria nem de reproduzir isso, mas mostra que ele foi igualmente desrespeitado. Dilma não está sitiada coisa nenhuma e na campanha vamos mostrar o que eles são ocultar, que é uma comparação com o que fizemos e com o que eles fizeram no governo — disse Falcão ao GLOBO.
O presidente do PT diz que os xingamentos e vaias não afastarão Dilma dos estádios ou de qualquer outro evento com multidões.
— Desde o início estava previsto que ela iria apenas à abertura e ao encerramento da Copa e os fatos de ontem (abertura no Itaquerão) não mudarão sua programação. Esses xingamentos não não estão sendo apoiados por ninguém. Nem pelos jornalistas que estão cobrindo a Copa e que tem posições mais críticas estão apoiando. Eu não estava no estádio, mas amigos me ligaram de lá relatando o que aconteceu e fiquei indignado — disse Falcão.
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