• Petrobras sobe preço na refinaria. nos postos, alta é de 2%. Para analistas, inflação pode romper meta
Ramona Ordoñez, Cássia Almeida, Bruno Rosa, Sergio Fadul e Luiza Damé – O Globo
RIO e BRASÍLIA - Quase um ano após o último reajuste, a Petrobras anunciou no início da noite de ontem aumento de 3% no preço da gasolina e de 5% no diesel nas refinarias, que entrou em vigor a partir de hoje. De acordo com estimativas das distribuidoras e dos revendedores, o impacto na bomba para o consumidor no Rio será em torno de 2% na gasolina e de 3,5% no diesel. O reajuste - que veio antes do esperado pelo mercado e abaixo das expectativas dos analistas - aumenta o risco, na opinião de especialistas, de a inflação estourar o teto da meta no ano, de 6,5%.
Paulo Miranda, presidente da Fecombustíveis, que reúne os postos, disse que para o consumidor o aumento no litro da gasolina deve variar entre R$ 0,05 e R$ 0,06. Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), o preço médio da gasolina no município do Rio é de R$ 3,098 por litro. Com isso, o valor subirá para R$ 3,148 a R$ 3,158 por litro. Segundo as distribuidoras, o reajuste deverá ser imediato.
- É uma estimativa caso as distribuidoras repassem o valor integral para os postos - disse Miranda.
Na terça-feira, na reunião do Conselho de Administração, presidido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, o governo já tinha dado aval para a estatal reajustar os preços de combustíveis. Na ocasião, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, afirmou que "reajuste de gasolina não se anuncia. Pratica-se".
Impacto de 0,1 ponto no IPCA
A presidente Dilma Rousseff, em entrevista aos principais jornais do país, disse ontem que foi o conselho da Petrobras que definiu o reajuste.
- Eles (o conselho da Petrobras) definiram o reajuste. Esse reajuste é para o passado, para parte do passado. Porque vai ter um período agora que vai ser assim, preço internacional aqui, preço nosso lá em cima. Eu passei ano a ano com essas variações, às vezes está para cima, às vezes está para baixo. Eu só não acho que é correto querer atrelar o preço do petróleo no mercado internacional ao preço dos combustíveis no Brasil - disse Dilma.
Mesmo com o reajuste, a Petrobras não conseguirá recuperar toda a perda acumulada no ano com a defasagem de preços. O último aumento nos combustíveis ocorreu no dia 30 de novembro de 2013, quando houve alta de 4% na gasolina e de 8% no diesel. Para o especialista Adriano Pires, de janeiro a agosto, a estatal acumulou perdas de R$ 2,4 bilhões. A partir de setembro, com a queda no preço do petróleo no mercado internacional, a defasagem foi reduzida e atualmente os preços estão alinhados com os do exterior:
- Para recuperar as perdas no ano, seria necessário reajuste de 20%. Esse reajuste só faz cócegas, não resolve os problemas da Petrobras e vai impactar na inflação.
A inflação corre o risco de estourar a meta fixada pelo governo para este ano. O reajuste de 3% na gasolina pode ter impacto de até 0,1 ponto percentual no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A variação parece pequeno, mas é suficiente para o índice fechar em 6,55%.
- Estou prevendo que a inflação feche 2014 ente 6,3% e 6,4%, sem reajuste da gasolina. Com o reajuste, passará para entre 6,4% e 6,5%. Qualquer aumento acima do esperado nos alimentos, com a alta do dólar, fará a inflação estourar o teto da meta - disse Luis Otávio Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil.
Expectativa de novos reajustes
Para Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners, o reajuste de 3% na refinaria pode ser integralmente repassados ao consumidor. Foi o que aconteceu em dezembro do ano passado. A Petrobras aumentou o preço do litro do combustível em 4% e a inflação captou 4,04%.
- Minha previsão é de 6,4%. Com esse reajuste, pode ficar em 6,52%. Mas vai depender da taxa de inflação que o IBGE divulgar (hoje). Se vier 0,46%, a chance de a meta estourar é maior. Se vier perto de 0,40%, pode ser que não.
Para Leal, o caixa da Petrobras se beneficiará mais do aumento de 5% no diesel, que tem impacto desprezível na inflação. Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio, diz que serão necessários novos aumentos da gasolina em 2015. Ele vê risco pequeno de estouro da meta:
- A economia está fraca e o Banco Central deve continuar a subir os juros diante do dólar mais alto. Como a moeda não deve ficar abaixo de 2,40%, a Petrobras precisará subir mais a gasolina
Assim, David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), avalia que pode ser anunciado aumento maior de combustíveis neste ano, após o período de coleta do IPCA. Com isso, o governo conseguiria dosar o impacto para a inflação deste ano e de 2015:
- O reajuste está voltado mais para minimizar o impacto no IPCA do que para recuperar o caixa da Petrobras.
O reajuste, anunciado após o fechamento dos mercados, fez as ADRs da estatal em Nova York avançaram 1,12%. No horário regular, fecharam em baixa de 3,85%. No Brasil, as ações caíram 2,36%.
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