• Segundo cálculos de Adriano Pires, do CBIE, para cobrir os prejuízos do passado da Petrobrás, aumento teria de ficar em torno de 20%
Fernanda Nunes, Antonio Pita, Mariana Sallowicz - O Estado de S. Paulo
RIO - O reajuste de 3% no preço da gasolina não será suficiente para recompor as perdas da receita da Petrobrás este ano, segundo o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, habitual crítico do governo.
"O Brasil está indo contra a lógica do mercado internacional. É um sinal econômico ruim", afirmou. "Foi um aumento muito pequeno. Se o objetivo fosse cobrir os preços do passado, teria de aumentar em torno de 20%."
Ainda que tímido, o efeito do reajuste concedido pela Petrobrás só aparecerá no balanço da petroleira no quarto trimestre deste ano. O mesmo deve acontecer com a queda do preço do petróleo no mercado internacional iniciada em outubro deste ano, que também deve ajudar a estatal a obter melhores resultados financeiros no fechamento do ano.
A estratégia de reajustes da estatal também foi criticada pelo presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, André Rocha. Segundo ele, o aumento mais forte do diesel, de 5%, vai acabar pressionando os custos do setor de etanol.
"O aumento não corrige as distorções da Petrobrás. A alta do diesel implica em um aumento muito grande do custo do setor, que vai ser maior do que qualquer ganho de competitividade com esse pequeno aumento da gasolina", disse Rocha.
Na avaliação dele, a expectativa dos produtores de etanol era de que houvesse um aumento maior da gasolina e menor no diesel. Ainda segundo Rocha, é controversa a avaliação de que o impacto na inflação é maior com a alta na gasolina do que a do diesel, o que justificaria um reajuste maior para o diesel.
"Essas fórmulas deveriam ser revistas, porque o diesel impacta nos custos de produção e cria um efeito cascata que pode não ter impacto num primeiro momento, mas que chegará ao consumidor final", afirmou.
Margem. A defasagem no preço dos combustíveis tem pressionado os resultados da Petrobrás. Até a semana passada sem aval do governo para elevar os preços, a petroleira viu sua margem operacional encolher no primeiro semestre de 11% para 10%, de acordo com um estudo elaborado pelo professor do Insper e consultor da M2M, Eric Barreto.
No mesmo período, a receita caiu 1%, enquanto o custo operacional aumentou 2%. Como consequência, a rentabilidade da empresa passou de 5% para 4% em relação ao ano passado, um porcentual muito abaixo da média das grandes petroleiras, que gira na casa dos 13%.
Nos últimos anos, o principal motivo para que a Petrobrás tivesse um desempenho abaixo das suas concorrentes foi a defasagem dos preços internos em relação à cotação internacional. Uma diferença que somou 20% na maior parte do primeiro semestre de 2014.
No período, as margens da área de abastecimento da companhia, que inclui o refino e o comércio de derivados de petróleo, amargaram uma queda de 7%. Cifra que significa que a estatal gastou mais para produzir os combustíveis do que lucrou com a sua venda.
O grande desafio da Petrobrás hoje é reduzir o seu endividamento. A empresa tem o objetivo de baixar o seu nível de alavancagem, que mede a capacidade de pagar suas dívidas, dos atuais 45% para 35%.
Atualmente, no entanto, mais da metade dos ativos da empresa estão comprometidos com dívidas. A dependência financeira, que contabiliza a relação entre ativo e passivo, aumenta a cada ano, tendo passado de 45%, em 2011, para 51%, em 2012, 54% no ano passado e 55% neste ano. / Colaborou Gustavo Porto
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