• Irritado, Aécio diz que partido é contra qualquer entrave às investigações
Júnia Gama – O Globo
BRASÍLIA - O anúncio de um acordo entre parlamentares da base e da oposição para adiar a convocação, na CPI mista da Petrobras, de políticos citados no esquema de corrupção da estatal provocou ontem reação da cúpula do PSDB. O partido divulgou nota negando tratativas para abafar as investigações. Foi grande a irritação do senador Aécio Neves (PSDB-MG), candidato derrotado no segundo turno da eleição presidencial, e que, na sua volta ao Senado, discursou defendendo o aprofundamento das investigações e a punição dos envolvidos no caso.
"O PSDB não pactua com qualquer tipo de acordo que impeça o avanço das investigações da CPMI da Petrobras. Lutamos pela instalação da CPMI. Temos de ir a fundo na apuração do chamado "petrolão" na responsabilização de todos que cometeram eventuais crimes, independentemente da filiação partidária. Essa é a posição inarredável do PSDB", diz nota assinada por Aécio Neves.
Logo pela manhã, Aécio telefonou ao deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), que dera entrevista relatando o acordo de procedimento feito com petistas na CPI. Aécio pediu explicações sobre a polêmica e ouviu de Sampaio que o PT teria tentado criar um "factoide" para "igualar" a oposição aos representantes da base. O deputado alegou que houve um entendimento de que os depoimentos de parlamentares citados no esquema seriam inócuos neste momento, porque a CPI ainda não teve acesso ao conteúdo da delação premiada do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.
Vaccari e Meirelles não foram chamados
Como a expectativa de Sampaio é que o Supremo Tribunal Federal (STF) entregue os documentos à CPI em breve, a estratégia da oposição é deixar para ouvir esses políticos em uma nova CPI, a ser instalada no próximo ano. O acordo acabou adiando votação de requerimentos para convocar o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e também o empresário Leonardo Meirelles, que denunciou envolvimento de tucanos com o doleiro Youssef.
Aécio decidiu entrar em campo depois da notícia dada pelo relator da CPI, deputado Marco Maia (PT-RS), de que havia um acordo para blindar a convocação de políticos. A interlocutores, o senador tucano disse considerar um "desserviço" o clima gerado sobre a CPI, inverso ao que tentou criar com seu primeiro discurso na volta ao Senado. Aécio também afirmou haver uma diferença absoluta entre acordo de procedimentos, para ouvir outras pessoas e obter subsídios para a oitiva dos políticos, e acordo para evitar a convocação de políticos. E voltou a afirmar que nem ele nem os partidos que integram a oposição autorizaram qualquer acordo para evitar a convocação de políticos ou qualquer envolvido no "petrolão".
Aécio também acionou o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), para que comandasse uma reação ampla. A nota assinada pelas lideranças da oposição (PSDB, DEM, Solidariedade e PPS) saiu à tarde. No texto, os deputados dizem que "rechaçam veementemente o suposto acordo" anunciado por Marco Maia e dizem que Carlos Sampaio "classifica como "vergonhosa" a citação de seu nome como partícipe de um acordo para proteger quem quer que seja, negando qualquer articulação para beneficiar agentes políticos". "Não compactuamos e nem participaremos de qualquer acordo que resulte em impunidade. É inaceitável que os desvios já comprovados na maior estatal brasileira sejam ocultados por interesses escusos, especialmente político-partidários".
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