• Presidente sinaliza que senadora será nova Ministra da Agricultura, apesar de protestos de Sem-Terra
Simone Iglesias e Demétrio Weber – O Globo
BRASÍLIA - Apesar dos intensos protestos de movimentos sociais, que chegaram ontem a invadir a sede da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), a presidente Dilma Rousseff fez ontem a primeira sinalização pública de que está inabalável na decisão de nomear Kátia Abreu para o Ministério da Agricultura. Dilma participou na noite de ontem de cerimônia de recondução de Kátia para um terceiro mandato na presidência da CNA e, em meio a uma troca de elogios, disse que elas estarão "mais próximas do que nunca" nos próximos quatro anos.
- Hoje, Kátia Abreu, quero lhe dizer que nossa parceria está apenas começando. Temos quatro anos pela frente. Quero dar os parabéns à minha amiga por todas as realizações passadas e tenho certeza por todas as realizações futuras. Desejo grandes conquistas para o agronegócio e tenho certeza que vamos caminhar juntas e estaremos muito próximas nesses quatro anos, mais próximas do que nunca - afirmou Dilma em seu discurso.
A presidente fez afagos na sua futura ministra, dizendo que ela é motivo de orgulho para o país:
- Kátia orgulha as mulheres do nosso país pelas convicções firmes, é uma lutadora incansável por um segmento que é muito importante para o nosso país.
Senadora: presidente entende agronegócio
Kátia Abreu deverá se licenciar da CNA nos próximos dias, quando for oficializada ministra. Numa resposta às críticas que vem sofrendo de vários setores pela indicação de Kátia para o ministério, Dilma afirmou que não pode discriminar um segmento importante para o país.
- Sem considerar as diferenças políticas e ideológicas, é também a bandeira de um governo que não pode discriminar quem gera alimentos para um Brasil, sem medo de errar, que é um dos fatores de prosperidade e que está aqui representado pelos produtores da CNA, os pequenos e os médios produtores e os que lutam pela terra.
Kátia também fez vários afagos à presidente.
- A presidente Dilma foi a primeira chefe de governo a se dispor a entender uma agenda tão complexa como a do agronegócio. Apoiou o código florestal, uma luta de mais de 15 anos, apoiou a concessão da exploração privada dos portos. Muito foi feito e muito temos a fazer - afirmou a provável futura ministra.
Pela manhã, horas antes da posse de Kátia, mais de 200 sem-terra invadiram a sede da CNA, onde ocorreu a cerimônia, para protestar contra a nomeação. Eles deixaram o prédio por volta das 16h30. A manifestação foi organizada pela Frente Nacional de Luta Campo e Cidade (FNL) e Movimento Brasileiro dos Sem-Terras (MBST), duas dissidências do Movimento dos Sem-Terra (MST). Em seu discurso, Kátia repudiou a invasão do prédio.
- O Brasil vive um momento de avanços em que não se pode conviver com a bitola estreita das ideologias. Grupos de esquerda ou direta hoje, à margem da lei, invadiram este prédio - disse a futura ministra.
O protesto da FNL e do MBST ocorreu no mesmo dia em que dirigentes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) foram recebidos por Dilma no Palácio do Planalto. Assim como os manifestantes que ocuparam a CNA, os representantes do MST criticaram a nomeação de Kátia.
- Colocamos para a presidente Dilma que a nomeação de Kátia Abreu é uma simbologia muito ruim para aquilo que foram as eleições nas ruas, onde os movimentos sociais garantiram a vitória da presidente. Kátia Abreu representa o agronegócio, o atraso, o trabalho escravo e, principalmente, no seu estado, a grilagem de terra. Agora, cabe à presidente Dilma nomeá-la ou não. Nós demos o nosso recado - afirmou o coordenador-geral do MST, Alexandre Conceição, ao sair do Planalto.
Na ocupação da CNA, ocorreu um fato curioso: apesar de protestarem contra a senadora, os dissidentes do MST pediram ajuda à CNA para conseguir marcar uma reunião com Dilma. Eles decidiram deixar o local após conseguirem ser recebidos por representantes do governo na sede nacional do Incra.
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