Durante a campanha eleitoral, já com a Operação Lava Jato em curso, o marketing lulopetista gastou tempo e muito dinheiro para denunciar a "falta de patriotismo" de quem fazia qualquer tipo de restrição à administração da Petrobrás. Criticar a Petrobrás era o mesmo que agredir o Brasil. Hoje, com a empresa sangrando copiosamente, perdendo valor de mercado, prestígio nacional e internacional e a confiança dos investidores; contemplando a perspectiva de ver dívidas gigantescas terem seu vencimento antecipado porque não consegue ao menos apresentar balanços financeiros rotineiros; enfim, mergulhada na maior e mais grave crise de sua história - diante de tudo isso, antipatriótico é fingir acreditar que os gestores da Petrobrás não tenham nenhuma responsabilidade pelo escândalo.
A substituição de Graça Foster e equipe seria, no mínimo, o atendimento de uma satisfação devida ao público, muito especialmente aos credores e investidores, além de demonstrar que a presidente da República está disposta a agir para ajudar a Petrobrás a sair do buraco cada vez mais fundo em que foi enterrada pela irresponsabilidade das administrações lulopetistas.
No entanto, uma das características mais marcantes da personalidade de Dilma Rousseff é sua dificuldade de reconhecer os próprios erros. Há quem chame isso de teimosia, mas certamente é um comportamento que tem mais a ver com um certo fundamentalismo ideológico. Um viés identificável também, por exemplo, na irredimível desconfiança que a criatura de Lula nutre em relação à iniciativa privada nas atividades econômicas. Há também quem credite a resistência da presidente em mexer no comando da estatal à sua fidelidade à amiga e antiga colaboradora que colocou na presidência da empresa.
Essas, contudo, seriam as versões indulgentes para o comportamento de Dilma Rousseff no escândalo da Petrobrás. Pois não se pode descartar a possibilidade de que a chefe do governo esteja pura e simplesmente procurando criar uma cortina de fumaça em torno da responsabilidade que ela própria tem nessa história toda. Afinal, Dilma, economista que se tornou especialista no setor energético, participa da vida da Petrobrás desde a inauguração do governo Lula, em 1.º de janeiro de 2003, como ministra de Minas e Energia, depois como ministra-chefe do Gabinete Civil da Presidência e também presidente do Conselho de Administração da estatal. E nos últimos quatro anos como presidente da República. Diante desse currículo se pode dizer que, em 12 anos de governo petista, nenhuma autoridade governamental esteve mais estreitamente ligada à Petrobrás do que Dilma Rousseff.
A presidente da República conhece suficientemente os meandros e o funcionamento da maior estatal do País para saber que Graça Foster e toda a diretoria da Petrobrás não reúnem mais condições de permanecer em seus cargos, por menores que sejam suas responsabilidades na farra da propina. A preservação do que ainda resta da boa imagem da empresa e sua recuperação exigem providências drásticas. Trocar a diretoria, até para preservar os empregados, comissionados ou não, que não tenham culpa no cartório, é uma das providências imediatas ao alcance de Dilma.
O clamor pela substituição da atual diretoria da Petrobrás tem aumentado nos últimos dias. Foi defendida na semana passada, em duas oportunidades, pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que, como chefe do Ministério Público Federal (MPF), a esta altura já tem uma boa noção da profundidade e da abrangência do escândalo investigado pela Operação Lava Jato.
No último fim de semana, Marina Silva, candidata derrotada do PSB à Presidência, e o governador paulista Geraldo Alckmin engrossaram o coro. "Essa diretoria", afirmou Marina, "foi mantida durante todos esses anos e não teve a competência e o compromisso para evitar o que foi feito." Alckmin, por sua vez, preconizou "não só mudança de pessoas, mas mudança de métodos". Está mais do que na hora de Dilma começar a ouvir.
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