Quem dá mais pela Petrobras?
• Ações da estatal têm negociação interrompida na Bolsa após recuo de 10% e vão a leilão
João Sorima Neto e Ana Paula Ribeiro – O Globo
SÃO PAULO - Para tentar minimizar as perdas das ações da Petrobras, numa medida extrema, as negociações com os papéis da estatal na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) foram suspensas ontem por cerca de 15 minutos e entraram em leilão. Segundo a Bovespa, isso ocorre sempre que há uma oscilação de 10% sobre o preço de abertura do pregão, um procedimento que visa a tentar acalmar o mercado. E esta não foi a primeira vez: a negociação já havia sido suspensa temporariamente, por exemplo, em 27 de setembro de 2010, no primeiro dia de negócios após a capitalização da Petrobras. Apesar da suspensão de ontem, as ações da empresa cravaram seu sexto dia consecutivo de baixa, fechando com desvalorização de quase 10%. Somente nos últimos seis pregões, os papéis da petrolífera perderam 25% de seu valor.
Sem a divulgação de um balanço auditado e com novo recuo do preço do petróleo no mercado internacional, as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da Petrobras encerraram com baixa de 9,19% em relação ao fechamento de sexta-feira, a R$ 9,18 - a menor cotação desde 20 de julho de 2005, quando encerraram a R$ 9,16. Já os papéis ordinários (ON, com voto) caíram 9,93%, a R$ 8,55, no menor nível desde 15 de setembro de 2004, quando fecharam a R$ 8,47. Na Bolsa de Nova York, os American Depositary Receipts (ADRs) perderam mais de 11%, a US$ 6,28. O Ibovespa registrou queda de 2,05%, aos 47.018 pontos.
- O mercado está batendo nos ativos brasileiros com uma maior aversão risco. O novo adiamento do balanço da Petrobras também não agradou - disse Ari Santos, gerente de renda variável da corretora H.Commcor.
Bancos reduzem seu preço-alvo
A primeira suspensão dos negócios com os papéis ON da Petrobras aconteceu às 14h50m e durou cerca de cinco minutos. Eles caíam 9,62% frente ao fechamento de sexta-feira, mas o limite para a suspensão é contado em relação à abertura do pregão do dia. As ações PN entraram em leilão logo em seguida, quando caíam 9,10%, também por cinco minutos. Durante o período do leilão, a cotação do papel fica congelada e diversas ordens de compra ou venda são feitas, com os investidores avaliando se é necessário alterar suas posições. Após a paralisação dos negócios, os papéis da Petrobras passaram a ser negociados com queda menor, no patamar de 8%. Mas perto do fechamento, pouco antes das 16h30m, a queda se acentuou. Com isso, outro leilão, de menos de cinco minutos, foi realizado.
As previsões dos bancos para as ações da estatal continuam pessimistas. Ontem, o HSBC cortou o preço-alvo dos papéis PN de R$ 10,70 para R$ 8,70. De acordo com os analistas do banco, a Petrobras corre o risco de ficar sem caixa no quarto trimestre de 2015 se não divulgar suas demonstrações financeiras e não conseguir fazer captações no mercado internacional. O Credit Suisse, por sua vez, reduziu o preço-alvo para os ADRs da estatal de US$ 14 para US$ 7,30.
O sócio da Queluz Asset Management, Maurício Pedrosa, avaliou que a conjuntura externa também pesou sobre a Petrobras. O preço do barril do tipo WTI recuou mais 3,3% nos EUA, para US$ 55,91, a menor cotação desde maio de 2009.
- Ou seja, além das notícias ruins da empresa, há um mal-estar no mercado internacional do petróleo - afirmou Pedrosa.
Dólar sobe 1,28%, a R$ 2,685
Segundo analistas da Yield Capital, os poucos números preliminares do terceiro trimestre divulgados pela Petrobras mostraram geração positiva de caixa, devido ao aumento da produção de petróleo, ao reajuste nos preços dos combustíveis e à redução das importações. A estatal divulgou endividamento líquido de R$ 261,45 bilhões e fluxo de caixa positivo de R$ 4,25 bilhões. Para o BTG Pactual, os números não são conclusivos e fica difícil interpretá-los como positivos sem ter em mãos ao menos como foi a variação do capital de giro da companhia. Em nota a clientes, o banco considerou pouco provável a companhia divulgar os dados auditados em janeiro.
Para Elad Victor Revi, analista da Spinelli Corretora, a tendência é que a Bolsa fique pressionada e muito volátil durante toda a semana, com analistas e investidores à espera dos próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que se reúne hoje e amanhã para discutir a taxa básica de juros dos Estados Unidos. Espera-se algum sinal sobre quando os juros subirão. Ao elevar sua taxa básica, os EUA atrairiam parte dos recursos hoje alocados em outros países, em especial nos emergentes.
No mercado de câmbio, o dólar fechou em alta de 1,28%, pelo quarto dia consecutivo, cotado a R$ 2,685. É o maior patamar da moeda americana desde 29 de março de 2005, quando encerrou a R$ 2,697.
Em Nova York, o índice Dow Jones fechou em queda de 0,58%, e a Nasdaq caiu 1%. Na Europa, Londres recuou 187%, enquanto Frankfurt e Paris perderam 2,72% e 2,52%, respectivamente.
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