Fernando Taquari – Valor Econômico
SÃO PAULO - Insatisfeitos com os rumos do país no governo Dilma Rousseff (PT), um grupo de simpatizantes do PSDB se articula para propor um ato de filiação coletiva a partir do primeiro semestre de 2015 com base numa carta de princípios. Intitulado como "Onda Azul", o movimento pretende defender o legado do partido, como a estabilidade da moeda e a paternidade de programas sociais, e propor cinco novas diretrizes internas com vistas às eleições presidenciais de 2018. As mudanças representariam uma espécie de refundação do PSDB em uma tentativa de resgatar e canalizar para o partido "o sentimento de mudança", manifestado pela população durante a disputa eleitoral deste ano e nos protestos de junho de 2013.
"Não será uma filiação gratuita. Exigimos contrapartidas, como a instituição de prévias e eleições diretas para os diretórios. Isso no futuro vai ajudar o PSDB a trazer as ruas para a política institucional e ao mesmo tempo aprofundar a presença do partido nas ruas", diz Humberto Laudares, 35, consultor de políticas públicas e professor do Centro de Liderança Pública (CLP), uma organização sem fins lucrativos e que tem como mantenedores o Banco Itaú-Unibanco e os economistas Cláudio Haddad (presidente do Insper), Luis Stuhlberger (diretor-geral e co-fundador da Credit Suisse Hedging-Griffo) e Armínio Fraga, responsável pelo programa econômico de Aécio Neves (PSDB-MG) na eleição de 2014 ao Palácio do Planalto.
O movimento, segundo Laudares, reúne pessoas de diferentes segmentos da sociedade entre 20 e 40 anos, em oito Estados (RS, SC, SP, RJ, MG, BA, CE, e DF). Todos os trabalhos desenvolvidos pelo grupo são feitos de forma voluntária. "Somos mais do que uma lista de simpatizantes de um partido ou de um modelo de gestão. Há marinistas e ex-petistas conosco. A diversidade é fundamental para combater intolerâncias da forma mais aberta possível", afirma o consultor ao garantir que o "Onda Azul" conta com o apoio de líderes do movimento social, negro, indígena, feminista e ambiental, além de advogados, economistas e cientistas políticos, a grande maioria sem histórico de filiação partidária.
"Não há nomes muito conhecidos. A ideia é essa, que sejam pessoas comuns, que estão insatisfeitas com o governo, mas temiam entrar na política". A aproximação com os movimentos sociais e a criação de novas diretrizes internas teriam como objetivo apagar a imagem do PSDB de um partido elitista e fechado, como costuma explorar o PT nas eleições. Não foi feito até aqui uma campanha de mobilização pela filiação. O grupo, contudo, calcula ter o compromisso de 150 pessoas neste momento. Isso sem contar o potencial de crescimento ao contabilizar os mais de mil seguidores no Facebook.
Para atrair novos integrantes ao partido, Laudares conta com a experiência e a rede de contatos que estabeleceu ao ser um dos fundadores do movimento "Vem pra Rua", que ganhou corpo nas manifestações de junho do ano passado e nas eleições de 2014. O "Onda Azul", por outro lado, procura se dissociar de militantes radicais que, em passeatas recentes, pregaram o impeachment da presidente Dilma e a volta ao Poder dos militares. "Não queremos fazer uma oposição udenista. Não acreditamos no dualismo como meio de fazer política", ressalta Laudares, acrescentando que votou no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial de 2002.
Natural de Alfenas (MG), o consultor já trabalhou com os tucanos entre 2004 e 2007, quando foi assessor na Secretaria Estadual de Planejamento de São Paulo. De lá para cá acumulou passagens pelo Banco Mundial e o Fundo Global de Luta contra a Aids, Tuberculose e Malária, em Genebra, na Suíça. Em 2014 voltou ao Brasil para uma breve passagem na Secretaria Estadual de Fazenda ao lado de Andrea Calabi. Entre os seus principais colaboradores no movimento estão Eduardo Wolf, jornalista, filósofo e professor de ensino médio, Eduardo Andrade, empresário do ramo imobiliário e Felipe Salto, economista da consultoria Tendências Integrada.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador eleito José Serra, dois dos maiores expoentes do PSDB, já deram aval para o grupo em reuniões recentes. Aécio e o governador paulista, Geraldo Alckmin, devem se encontrar com os líderes do movimento nas próximas semanas. As propostas do "Onda Azul" estão em linha com os pedidos de renovação do partido por FHC, mas vão de encontro com interesses das principais lideranças tucanas, contrárias a instituição de prévias para a escolha de candidatos e a eleição direta para os diretórios municipais e estaduais. A gestão partidária, conforme a carta de princípios, ficaria aos cuidados de executivos sem cargos públicos eletivos.
Além disso, defendem a criação de uma ouvidoria nacional, sob a responsabilidade de um ouvidor sem vínculo com o partido e eleito para quatro anos, sem direito a reeleição, e a adoção de estratégias para atrair movimentos sociais. Em outra frente, propõem mudanças no Instituto Teotônio Vilela (ITV), a fim de torná-lo mais técnico na disseminação de conteúdo programático, o que pode servir para municiar candidatos tucanos. "É importante o partido ter marcas de gestão municipal e estadual comuns nos governos tucanos, além de coerência entre esferas de governo", diz Laudares.
Um outro grupo de simpatizantes ao PSDB, composto por economistas e cientistas políticos, alguns ligados ao "Onda Azul", se organiza para criar um instituto que atuaria paralelamente ao ITV na criação de conteúdo. "A união dessas duas coisas representaria o embrião de um novo PSDB", afirma Salto. Os dois grupos, no entanto, evitam manifestações de apoio a possíveis pré-candidatos do PSDB à Presidência em 2018.
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