sábado, 21 de fevereiro de 2015

Instituto confirma que empreiteiras recorreram a Lula

• Aécio Neves diz que procurar interferência política de ex-presidente é comportamento de "republiqueta"

- O Globo

SÃO PAULO- Executivos das construtoras investigadas da Operação Lava-Jato têm recorrido ao ex-presidente Lula para tentar evitar um colapso financeiro. A informação, divulgada pelo jornal "O Estado de S. Paulo", foi confirmada ontem pelo presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto. Segundo ele, as empreiteiras querem ajuda para superar suas dificuldades, sobretudo junto à Petrobras, que vem cancelando contratos.

João Santana, diretor da Constran, do grupo UTC, marcou encontro com Lula, mas foi recebido por Okamotto. Ricardo Pessoa, presidente da UTC, foi um dos presos na operação. Segundo o jornal, na conversa, de clima tenso, Santana buscou orientação de Lula.

Nas eleições de 2014, a UTC doou R$ 21,7 milhões para campanhas do PT, dos quais R$ 7,5 milhões para a de Dilma.

Okamotto disse que Santana "queria explicar as dificuldades que as empresas estão enfrentando", e que "estava sentindo que as portas estavam fechadas e que tudo estava parado no governo, nos bancos".

— Não conversei com os empresários sobre a Lava-Jato em si, mas sobre as dificuldades das empresas. Estou falando com muitas empresas do setor de engenharia, de montagem, de caldeiraria e de estaleiros, que estão tendo dificuldades com a Petrobras, com contratos cancelados, problemas com financiamentos em bancos. Nesse contexto, me reuni com João Santana — disse Okamotto.

A assessoria da empreiteira confirma a reunião, mas nega que ela tenha sido para cobrar "interferência política" de Lula.

"João Santana falou apenas sobre dificuldades que empresas começavam a enfrentar diante da decisão do governo federal de atrasar pagamentos devidos por serviços já realizados", diz nota da Constran.

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) criticou o fato de Lula ter sido procurado por empreiteiras. Para ele, é um comportamento de "republiqueta":

— Recorrer a um ex-presidente como se o Brasil fosse uma republiqueta, onde a interferência política pudesse mudar o rumo das investigações, é desconhecer a realidade de um país que, se não avançou em seus procedimentos éticos, avançou na solidez das instituições.

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