• Ex-presidente lembrou da polêmica compra da refinaria de Pasadena e disse que lamenta o caráter 'de tsunami que a corrupção tomou' na Petrobrás
Carla Araújo - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) rebateu as afirmações da presidente Dilma Rousseff de que se os escândalos de corrupção na Petrobrás tivessem sido investigados durante a gestão de FHC alguns dos funcionários corruptos não estariam mais praticando atos ilícitos.
"A Excelentíssima Presidente da República deveria ter mais cuidado. Em vez de tentar encobrir suas responsabilidades, jogando-as sobre mim, que nada tenho a ver com o caso, ela deveria fazer um exame de consciência. Poderia começar reconhecendo que foi no mínimo descuidada ao aprovar a compra da refinaria de Pasadena e aguardar com maior serenidade que se apurem as acusações que pesam sobre o seu governo e de seu antecessor", afirmou o tucano, em nota.
FHC disse ainda que lamenta o caráter "de tsunami que a corrupção tomou no caso do "Petrolão" e que espera o pronunciamento da Justiça e o resultado das investigações para dar opiniões sobre possíveis culpados. O tucano disse, no entanto, que se sente "forçado" a reagir uma vez que "a própria Presidente entrou na campanha de propaganda defensiva, aceitando a tática infamante da velha anedota do punguista que mete a mão no bolso da vitima, rouba e sai gritando "pega ladrão"!", escreveu.
O tucano lembra ainda as declarações do ex-gerente de Serviços da Petrobrás Pedro Barusco que admitiu, em delação premiada, que desde o governo FHC há corrupção na estatal e ainda revelou que houve uma transferência de US$ 200 milhões de recursos desviados da Petrobrás para o Partido dos Trabalhadores. O PT nega.
Para FHC, o delator foi explícito em suas declarações à Justiça. "Disse que a propina recebida antes de 2004 foi obtida em acordo direto entre ele e seu corruptor; somente a partir do governo Lula a corrupção, diz ele, se tornou sistemática", afirma FHC. "Como alguém sério pode responsabilizar meu governo pela conduta imprópria individual de um funcionário se nenhuma denúncia foi feita na época?", questiona.
O ex-presidente rebate ainda as declarações de Dilma que "quem praticou malfeitos foram funcionários da Petrobras, que vão ter de pagar por isso". Para FHC, "não se trata de desvios de conduta individuais de funcionários da Petrobras, nem são eles, empregados, em sua maioria, os responsáveis".
"Trata-se de um processo sistemático que envolve os governos da Presidente Dilma (que ademais foi presidente do Conselho de Administração da empresa e Ministra de Minas e Energia) e do ex- presidente Lula", destaca o tucano, citando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Foram eles ou seus representantes na Petrobrás que nomearam os diretores da empresa ora acusados de, em conluio com empreiteiras e, no caso do PT, com o tesoureiro do partido, de desviar recursos em benefício próprio ou para cofres partidários", completou.
Leia a íntegra da nota:
"Até agora, salvo lamentar o caráter de tsunami que a corrupção tomou no caso do "Petrolão", não adiantei opiniões sobre culpados ou responsáveis, à espera do resultado das investigações e do pronunciamento da Justiça. Uma vez que a própria Presidente entrou na campanha de propaganda defensiva, aceitando a tática infamante da velha anedota do punguista que mete a mão no bolso da vitima, rouba e sai gritando "pega ladrão"!", sou forçado a reagir.
1. O delator a quem a Presidente se referiu foi explícito em suas declarações à Justiça. Disse que a propina recebida antes de 2004 foi obtida em acordo direto entre ele e seu corruptor; somente a partir do governo Lula a corrupção, diz ele, se tornou sistemática. Como alguém sério pode responsabilizar meu governo pela conduta imprópria individual de um funcionário se nenhuma denúncia foi feita na época?
2. do mesmo modo, a delação do empreiteiro da Setal Engenharia reafirma que o cartel só se efetivou a partir do governo Lula.
3. no caso do "Petrolão" não se trata de desvios de conduta individuais de funcionários da Petrobras, nem são eles, empregados, em sua maioria, os responsáveis. Trata-se de um processo sistemático que envolve os governos da Presidente Dilma (que ademais foi presidente do Conselho de Administração da empresa e Ministra de Minas e Energia) e do ex- presidente Lula. Foram eles ou seus representantes na Petrobras que nomearam os diretores da empresa ora acusados de, em conluio com empreiteiras e, no caso do PT, com o tesoureiro do partido, de desviar recursos em benefício próprio ou para cofres partidários.
4. diante disso, a Excelentíssima Presidente da Republica deveria ter mais cuidado. Em vez de tentar encobrir suas responsabilidades, jogando-as sobre mim, que nada tenho a ver com o caso, ela deveria fazer um exame de consciência. Poderia começar reconhecendo que foi no mínimo descuidada ao aprovar a compra da refinaria de Pasadena e aguardar com maior serenidade que se apurem as acusações que pesam sobre o seu governo e de seu antecessor."
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