- O Globo
Charmoso, firme, com respostas prontas para as autoridades europeias e os analistas, Yanis Varoufakis é osso duro de roer pelos alemães. Ele é o novo ministro das Finanças da Grécia e tem dito seguidos "nãos" ao ministro alemão Wolfgang Schäuble. Ontem, fracassou nova reunião de ministros europeus sobre a Grécia. O maior problema não é o país em si, mas o risco de contágio político.
O pessimismo aumentou em relação à possibilidade de encontrar uma saída para o impasse. Mas as negociações continuam. O governo de Alexis Tsipras rejeita a proposta de mais um prazo para continuar seguindo o mesmo cardápio de medidas austeras; quer um empréstimo ponte para adotar novos estímulos de crescimento, com outros termos e condições. A Alemanha não aceita ceder. Quer a extensão do mesmo programa austero e ontem os jornais gregos publicaram a frase que Schäuble vem repetindo: "A Grécia não pode viver além das suas possibilidades e fazer propostas pelas quais os outros devem pagar."
O ministro Yanis Varoufakis publicou um artigo no "New York Times" em que rebateu a crítica de analistas, de que ele estaria blefando ao endurecer na mesa de negociação. "Com certeza não estou blefando, a diferença entre nós e o governo que nos antecedeu é que estamos determinados a enfrentar poderosos interesses para dar novo impulso à Grécia e ganhar a confiança de nossos parceiros. Estamos determinados a não sermos tratados como uma colônia endividada, que merece sofrer o que tem que sofrer."
Seria mais fácil, para quem tenta isolar a Grécia ou prefira a sua saída da zona do euro, se o novo governo enviasse um ministro que vestisse o figurino radical. E ele tem seguidamente usado a filosofia e a história da Alemanha na mesa de negociação. Em vez de citar um pensador marxista, por exemplo, ele citou Kant no artigo do "NYT", para garantir que não estava usando a fórmula de estratégia e blefe "motivada por uma agenda radical de esquerda". E completou: "A maior influencia aqui é Immanuel Kant, que nos ensinou a opção livre e racional de fazer o que é certo para escapar da imposição dos expedientes."
O que a Alemanha não parece entender é que o programa deu certo. A Grécia ainda não consegue pagar a sua dívida, mas ela reduziu drasticamente o déficit público, conseguindo superávit primário, déficit nominal dentro do limite europeu e queda forte do rombo externo. A virada nos indicadores econômicos se deu após um programa que empobreceu a classe média, reduziu o número de funcionários, diminuiu os ganhos dos aposentados. A Grécia, antes, era um país com um número exorbitante de funcionários públicos e regras de aposentadoria generosas demais. Um grego se aposentava 13 anos mais jovem do que um alemão. Excessos foram cortados. Mas hoje o país está com altíssimo desemprego. Um em cada dois jovens da Grécia está desempregado.
"O princípio da maior austeridade para a economia mais deprimida é obsoleta, mas seria atraente se não causasse tanto sofrimento desnecessário", disse o ministro grego. Yanis Varoufakis é desconfortável para quem quer endurecer o jogo com a Grécia porque ele é um professor conceituado, culto, e tem argumentos racionais.
A zona do euro teme ceder à Grécia e fortalecer os movimentos que surgem, como o Podemos, na Espanha. O grupo político nasceu dos movimentos populares e tem o mesmo discurso antiausteridade. A Espanha também fez um enorme esforço, mudou seu quadro econômico completamente e está começando a crescer. Precisa incentivar esse dinamismo para criar emprego para os jovens. As eleições serão em dezembro. Por outro lado, a própria Angela Merkel tem problemas em casa. Perdeu eleições regionais neste fim de semana, vendo fortalecer a direita, que é contra a ajuda aos outros países.
A Alemanha pode estar pensando que o risco da saída da Grécia não abalou os mercados. Seria, portanto, uma opção mais barata do que o custo de concessões em série. No entanto, nunca se sabe o quanto o colapso grego pode afetar outros países através das pouco conhecidas conexões entre os mercados financeiros.
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