• Apesar dos reconhecimentos e dos pedidos de desculpa, certos dirigentes do PT não entendem que os companheiros tenham feito algo condenável; Ao contrário, apresentam-se como vítimas da elite branca e da imprensa golpista
- O Estado de S. Paulo
A senadora Marta Suplicy oficializou sua saída do PT na última terça-feira. A carta de desfiliação começa com a denúncia de que o PT se tornou “protagonista de um dos maiores escândalos de corrupção que a nação brasileira já experimentou”.
Dias antes, o presidente do PDT, Carlos Lupi, que foi ministro do Trabalho da presidente Dilma Rousseff, disse que o PT “exagerou no roubo”. À parte a impressão que fica, de que roubar pode, só não pode exagerar, nem Marta nem Lupi estão sozinhos.
Gente importante do PT e do governo já passou recibos da corrupção. Em 2005, o próprio presidente Lula já havia manifestado indignação por acusações que envolviam o PT, e não era só pelo exagero: “Eu me sinto traído pelas revelações que aparecem cada dia e que chocam o País. (…) Não tenho vergonha de dizer ao povo brasileiro que temos de pedir desculpas”.
Eram os tempos do mensalão. Nove anos depois, em abril de 2014, Lula mudou o discurso. Quando apareceu o petrolão, preferiu dizer que “o PT tem de aprender a lição com o escândalo de 2005 e partir pra cima da oposição”.
Não foi o que prevaleceu. Para não citar exaustivos reconhecimentos em contrário, fiquemos com os últimos. Em março, a ex-presidente da Petrobrás Graça Foster disse que estava envergonhada pela corrupção já comprovada na estatal, sob o governo PT. No dia 23 de abril, ao divulgar o balanço auditado da Petrobrás, o atual presidente, Aldemir Bendine, também reconheceu que o que acontecera na empresa “é uma vergonha”. Pediu desculpas em seu nome e no dos funcionários. O ex-presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli se viu na obrigação de também se desculpar.
Mas, afinal, por que isso aconteceu com o partido fundado em 1980, com a defesa da ética na política? O que, no DNA do PT, justificaria esse comportamento? Apesar dos reconhecimentos e dos pedidos de desculpa, certos dirigentes do partido não entendem que os companheiros tenham feito algo condenável. Ao contrário, apresentam-se como vítimas da elite branca e da imprensa golpista. Outros, ainda, justificam a corrupção não como roubalheira, mas como “expropriação da burguesia”. Esta é uma pista para entender o desvio.
O raciocínio é uma interpretação tosca das teorias marxistas, em proveito próprio por certas esquerdas. Argumentam elas que, ao contratar a força de trabalho para multiplicar o capital, que já é fruto do roubo, como proclamou Proudhon, a classe burguesa se apropria da mais valia produzida pelo proletariado. Enquanto a revolução não acontece, nada mais justificável do que usar os meios disponíveis para colocar em marcha “desapropriações” da riqueza da burguesia amealhada na prática da luta de classes.
Nessa dialética, não entram considerações de valores republicanos, como os que consideram empresas estatais propriedade da sociedade, e não da burguesia. Nem se leva em conta que, nesse processo, grande número de políticos das esquerdas se locupletou não em benefício de uma causa, mas em benefício próprio. Não é também de enriquecimento ilícito que está sendo acusado o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto?
Perderam o rumo e agora se agarram a qualquer coisa. Não conseguem nem mesmo “partir pra cima”, como pedia o ex-presidente Lula no ano passado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário