A PF fez operação de busca e apreensão no apartamento da mulher do governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), investigada por suposto envolvimento em esquema de lavagem de dinheiro. Quatro pessoas foram presas, entre elas empresário ligado ao PT.
PF faz busca na casa da mulher de Pimentel
• Empresa da primeira-dama de Minas seria usada por suposta organização criminosa
Gabriela Valente, Jailton de Carvalho e Thiago Herdy - O Globo
Negócios suspeitos
BRASÍLIA e SÃO PAULO - A Polícia Federal prendeu em flagrante ontem quatro pessoas, entre elas o empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, ligado ao PT, e considerado chefe de uma organização criminosa investigada por lavagem de dinheiro. Na Operação Acrônimo, a PF realizou 90 mandados de busca e apreensão em Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Goiás e Distrito Federal. No total, 30 endereços de pessoas físicas e de 60 empresas foram incluídos na ação. Entre eles estava um imóvel de Carolina de Oliveira Pereira, mulher do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT). Preso, o empresário Benedito de Oliveira, conhecido como Bené, prestou serviços para a campanha de Pimentel. Os agentes investigam se parte do dinheiro envolvido no esquema foi desviado para campanhas políticas.
A Polícia Federal acusa a jornalista Carolina de manter empresa que é usada pela organização de Bené. Um dos relatórios da operação a que o GLOBO teve acesso afirma que a Oli Comunicação e Imagens, que está em nome de Carolina, seria apenas de fachada. A empresa teria sido usada pelo grupo de Bené para movimentação financeira indevida. A PF concluiu que a Oli Comunicação é fantasma depois de fazer uma visita ao endereço da empresa. No papel, a Oli funciona no mesmo endereço da PP & I Participações Patrimoniais, outra empresa supostamente usada em negócios suspeitas de Benedito Oliveira.
"Embora a recepcionista do local tenha referido o funcionamento da empresa Oli nas salas 1810 e 1881, não foi encontrada qualquer indicação da existência da mesma", diz o procurador Ivan Marx ao pedir à Justiça Federal busca e apreensão de documentos em endereços de Carolina. Segundo o procurador, "pode se concluir que (...) a empresa Oli Comunição e Imagens seria uma empresa fantasma possivelmente utilizada para os fins Orcrim (organização criminosa) com a conivência de sua proprietária Carolina de Oliveira Pereira".
Antes de se casar com Fernando Pimentel, Carolina trabalhava como assessora de imprensa do petista no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Ela era contratada por meio do BNDES, órgão vinculado ao ministério comandado por Pimentel. A ação da PF ocorreu no endereço onde Carolina vivia antes da eleição de Pimentel, em Brasília. Atualmente, a primeira-dama mora no Palácio dos Mangabeiras, em Belo Horizonte, residência oficial do governador do estado.
Procurado pelo GLOBO para comentar a ação na casa de Carolina, o governo de Minas informou, apenas, que "não é objeto de investigação neste processo". Na tarde de ontem, a primeira-dama divulgou nota informando que "viu com surpresa a operação de busca e apreensão realizada em sua antiga residência, em Brasília" e que "acredita que a própria investigação vai servir para o esclarecimento de quaisquer dúvidas".
Bené começou a ser investigado quando seu avião foi apreendido no ano passado, durante a campanha, com R$ 113 mil. Ontem, a PF cumpriu o mandado judicial de sequestro do bimotor turboélice King Air, avaliado em R$ 2 milhões. A aeronave tem o prefixo PEG, iniciais de seus filhos: o acrônimo que batizou a operação da PF. A Polícia Federal também deteve Marcier Trombiere Moreira, ex-funcionário do Ministério das Cidades, que atuava na campanha de Pimentel. Ele era um dos passageiros do voo em que a PF apreendeu o dinheiro vivo no ano passado.
- Já foi possível estabelecer a atualidade e permanência dos principais envolvidos na investigação, tanto que estão sendo objeto de prisão por flagrante - disse o delegado responsável pela operação, Denis Cali. - Com a realização das buscas foram encontrados documentos, mensagens e contatos entre eles, encontros estabelecidos de forma recente que demonstram a permanência dessa associação.
Ele garantiu, no entanto, que nenhum partido político está sob a investigação. O caso começou a ser apurado em outubro do ano passado, após as eleições. Perguntado se o fato de o avião ter sido apreendido poderia ter alguma ligação com a campanha do governador mineiro, o delegado disse que não há político investigado.
- Até o momento, o Pimentel não é alvo da operação. Não há nenhum partido político sendo investigado e nem figura pública - disse o delegado, sem citar que há ex-parlamentares entre os alvos da operação. O ex-deputado Virgilio Guimaraes (PT-MG) foi outro alvo de busca e apreensão em Belo Horizonte.
Na ação de ontem também foram presos Pedro Augusto de Medeiros e Victor Nicolato. Uma quinta pessoa, ainda não identificada, foi detida por porte ilegal de arma.
A Operação Acrônimo apura o que a PF diz ser um esquema de montagem de empresas para lavar dinheiro. A maior parte das empresas é considerada, pela PF, como de fachada. Elas teriam movimentado mais de R$ 500 milhões desde 2005, só em contratos com o governo federal. A Gráfica Brasil - principal empresa da família de Bené - faturou R$ 465 milhões nesse período. Isso chamou a atenção dos investigadores. Outra empresa do grupo, chamada Due, faturou R$ 65 milhões em eventos. Parte do dinheiro pode ter sido doação para campanhas.
Nas buscas, foram aprendidos R$ 98 mil e US$ 5 mil. A assessoria da PF informou que, durante a operação, teria sido constatado que o grupo investigado continuou a atuar e por isso foi feita prisão em flagrante. A PF não esclareceu em que circunstância isso ocorreu. Ao todo, 12 carros foram apreendidos e estão na Superintendência da PF em Brasília.
Segundo a PF, o grupo fazia transações com pequenas quantias para ficar fora do radar do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). A técnica é batida e ganhou um apelido "smurffing". O nome deriva do desenho Smurfs: criaturinhas que vivem numa aldeia mágica e conseguem passar despercebidas dos humanos.
Em 2010, Bené foi interrogado pela PF sobre a denúncia de que teria pago o aluguel da casa usada na campanha presidencial. Ainda teve de prestar informações sobre um grupo de inteligência da campanha da então candidata Dilma Rousseff (PT) que estaria envolvido na produção de um dossiê contra o ex-governador José Serra (PSDB). O empresário também teve que dar explicações sobre supostas irregularidades em um contrato com o Ministério das Cidades.
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