• Partido espera sinal de Paes para desistir de apoio a secretário em 2016
Marco Grillo – O Globo
Líderes do PMDB do Rio esperam apenas um gesto do prefeito Eduardo Paes para sepultarem de vez a candidatura do secretário municipal de Coordenação de Governo, Pedro Paulo Carvalho, à prefeitura do Rio. Internamente, o partido reconhece que a situação é inviável, e pesquisas já mostram que os episódios de agressão à ex-mulher, Alexandra Marcondes, prejudicaram a avaliação do pré-candidato na pequena parcela da população em que ele é conhecido.
O comando da sigla avalia que a imagem de agressor “colou” em Pedro Paulo, e o seu temperamento, visto como explosivo, é criticado. No último domingo, Paes levou o secretário a uma agenda, o que era comum e se tornou mais raro conforme as acusações contra o aliado foram aparecendo. A estratégia não deu certo e alertou ainda mais os peemedebistas: enquanto discursava, Pedro Paulo foi vaiado por um grupo de mulheres.
Os dirigentes da sigla agem com cautela e evitam, pelo menos por enquanto, bater de frente com o prefeito. Eles avaliam que Paes será o “grande eleitor” em 2016 e que tem o direito de conduzir a própria sucessão, assim como o ex-governador Sérgio Cabral fez ao escolher o seu vice, o atual governador Luiz Fernando Pezão.
Em conversas reservadas, líderes do PMDB manifestam preocupação com a repercussão negativa das agressões e também com o andamento da investigação sobre um caso específico, ocorrido em 2010. Em depoimento à Polícia Civil, Alexandra contou ter sido agredida por Pedro Paulo. Um laudo do Instituto Médico-Legal (IML) mostra que ela teve um dente quebrado na briga.
Após o episódio surgir na imprensa, os autos foram enviados à Procuradoria Geral da República (PGR), já que Pedro Paulo tem foro privilegiado por ser deputado federal. O procurador-geral, Rodrigo Janot, vai apresentar ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedido de abertura de inquérito, com base na Lei Maria da Penha.
A investigação, no entanto, é uma das apostas do prefeito, segundo pessoas próximas, para reverter a situação de Pedro Paulo. Paes acredita que uma decisão favorável do STF, como o arquivamento do caso, seria um argumento forte para a defesa do secretário durante a campanha. Aliados do prefeito consideram difícil, porém, que o Supremo se manifeste rapidamente sobre o assunto.
Três novas acusações
Nas últimas semanas, surgiram mais três acusações contra o secretário. Uma outra agressão contra a ex-mulher, um caso de ameaça, também contra Alexandra, e um boletim de ocorrência em que um fotógrafo relata ter levado um tapa de Pedro Paulo durante um evento de campanha, no ano passado.
Uma fonte do partido diz que estão todos esperando que “caia a ficha” de Paes.
— O limite é a sobrevivência política. Isso já está respingando na imagem dele. Então uma hora ele vai precisar se afastar — acredita.
Interlocutores do secretário consideram que ele está desanimado e que já teria desistido da corrida eleitoral, não fosse a insistência de Paes. Após a divulgação do segundo episódio de agressão, Pedro Paulo estava determinado a abrir mão da candidatura, segundo uma fonte. Foi convencido a continuar na disputa numa reunião que entrou pela madrugada e contou com a presença, entre outros, do ex-governador Sérgio Cabral e do antropólogo Renato Pereira, marqueteiro responsável pelas campanhas mais relevantes do PMDB no estado. Deste encontro, surgiu a estratégia de defesa do secretário: no dia seguinte, ele deu uma entrevista coletiva, ao lado da ex-mulher, num hotel em Copacabana.
Decisão ainda deve demorar
Apesar de o assunto já ser tema de conversas internas, há o consenso de que nenhuma decisão será tomada a curto prazo. O conturbado cenário político nacional também contribui para que as eleições municipais não sejam o foco principal no momento. Por volta de março, o PMDB deverá centrar as atenções no assunto, ampliando os debates e as pesquisas com eleitores.
Procurado pelo GLOBO para comentar o cenário eleitoral, o presidente estadual do PMDB, Jorge Picciani, negou que o partido já tenha desistido de Pedro Paulo.
— Não existe plano B — assegurou, assim como já havia feito na convenção do partido, há duas semanas.
O secretário estadual de Governo, Paulo Melo, também disse que não há alternativas em estudo.
— O partido está usando todos os instrumentos e as lideranças para viabilizar a candidatura do Pedro Paulo — afirmou.
Em Paris para as reuniões da COP 21, Paes informou que “só tratará de eleição no ano que vem”. Pedro Paulo não quis dar entrevista. Cabral também preferiu não se manifestar. (Colaborou Fernanda Krakovics
Nenhum comentário:
Postar um comentário