- Folha de S. Paulo
Esta é a primeira coluna do ano. Momento ideal para conferir o cenário que traçamos para 2015.
Esperava que o crescimento em 2015 fosse de 0,5% e que a inflação ficaria em 6,7%, em função do ajustamento dos preços administrados em 9% e de um câmbio de final de período de R$ 2,8.
A inflação será de 10,7%. O erro não foi de modelo, mas sim de premissas empregadas para gerar a projeção. O câmbio deve fechar o ano em R$ 4, e não em R$ 2,8, como se imaginava; e a inflação dos administrados será de 18%, e não os 9% projetados.
O erro de oito pontos percentuais (pp) na inflação de preços administrados adiciona 2,0 pp na inflação do ano, visto que estes preços respondem por pouco menos de 25% do índice.
O erro no câmbio de 43% (R$ 1,2 adicional, em relação a R$ 2,8) acrescenta 2,6 pp na inflação, se o repasse for de 6% - isto é, cada 10% de desvalorização do câmbio representar 0,6 pp a mais na inflação.
Se tivesse acertado as premissas com relação ao câmbio e à inflação de administrados, teria projetado em dezembro de 2014 que a inflação de 2015 seria de 11,3%: resultado da soma da projeção de 6,7% com os 4,6 pp do erro nas premissas (2,0+2,6). A inflação de fato em 2015 será de 10,7%, o que significa que os modelos com as premissas corretas resultaram em inflação 0,8 pp maior do que a observada.
A inflação 0,8 pp abaixo do que seria esperado (com as premissas corretas) deriva da menor pressão inflacionária em função da atividade, que foi 4,1 pp pior do que o imaginado (recuo de 3,6%, ante projeção, em dezembro de 2014, de crescimento de 0,5%).
Na verdade, uma atividade tão ruim e tão abaixo do projetado deveria ter levado a inflação mais para baixo do que a diferença de apenas 0,8 pp entre a realidade e o modelo alimentado com as premissas corretas de câmbio e preços administrados. Isto significa que o processo inflacionário em 2015, mesmo considerando o salto pela grande desvalorização cambial e pela enorme inflação corretiva, já adquiriu uma inércia extremamente forte. Será difícil trazer a inflação novamente para a meta de 4,5%.
O erro na atividade de 4,1 pp deveu-se a não se ter projetado piora tão acentuada da confiança da indústria, dos serviços e dos consumidores. Uma pessoa olhando para frente em dezembro de 2014, se soubesse que a confiança cairia como de fato caiu, conseguiria prever a fortíssima queda da atividade.
O recuo não previsto da confiança foi causado por não se ter antevisto a piora política, que tem três causas: os efeitos da operação Lava Jato sobre o mundo da política; o estelionato eleitoral muito profundo, que minou as condições para que a sociedade aceitasse o ajuste das contas públicas; e o clima demasiadamente aguerrido da campanha eleitoral, que envenenou o ambiente político, não deixando espaço para a cooperação entre governo e oposição.
A única defesa que tenho contra tantos erros é que em dezembro de 2014 escrevi: "Uma das hipóteses para esse cenário é que a política fiscal melhore muito e tenhamos um superavit recorrente das contas públicas mais próximo de 1% do PIB. (...) O sucesso da estratégia de ajuste dependerá demais da habilidade na condução da política e de convicção. Na falta de um dos dois, não me atrevo a desenhar o que virá pela frente".
Semana próxima apresento meus prognósticos para 2016. Espero errar tanto quanto errei sobre 2015, somente que na direção contrária!
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