• Escolha do líder do partido na Câmara divide grupos pró e antigoverno
Júnia Gama e Catarina Alencastro - O Globo
Nem mesmo as festas de fim de ano foram suficientes para esfriar as articulações pela liderança do PMDB na Câmara. O maior partido da base aliada do governo definirá em fevereiro se o comando da bancada permanecerá nas mãos de um aliado da presidente Dilma Rousseff durante o processo de impeachment, ou se será entregue ao grupo dissidente que defende o afastamento do partido do Palácio do Planalto.
Na última semana, deputados da ala oposicionista do PMDB se reuniram em Brasília, com a presença do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para tratar do assunto e tentar uma união em torno da escolha do novo líder.
Após o episódio da destituição e retomada do posto por Leonardo Picciani (PMDB-RJ), os peemedebistas anti-Dilma querem emplacar um candidato da bancada de Minas Gerais para a vaga, mas encontram dificuldades porque os sete deputados mineiros têm posições divergentes.
Há pressão da cúpula do PMDB para que Picciani fique fora da disputa, mas o atual líder, que tem apoio do Palácio do Planalto, pretende brigar pelo cargo.
— Vou ser o candidato e minha proposta é de buscar unidade, respeitar as posições. Sei que nesse momento não há unidade, mas disputarei e tenho a convicção de que unificarei a bancada — afirmou Picciani.
Mineiros sem consenso
Os deputados oposicionistas pressionam Picciani para que marque já a data e decida a forma como a eleição será feita. Para dificultar a recondução do atual líder, Eduardo Cunha pretende cobrar a aplicação de um suposto acordo segundo o qual a recondução só poderá ocorrer por dois terços dos votos da bancada. Picciani nega que exista acordo neste sentido e diz que, para voltar a ocupar a liderança do PMDB em 2016, basta alcançar a maioria dos votos. No início de 2015, Picciani venceu Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) por um voto.
O grupo dissidente, incluindo Eduardo Cunha, fechou apoio a um candidato da bancada de Minas Gerais, com o argumento de que, proporcionalmente, foi o estado menos atendido pelo governo na distribuição de cargos relevantes, inclusive na Esplanada dos Ministérios. Entretanto, ainda não há um nome definido, devido a uma disputa interna entre os mineiros, que se dividem entre Leonardo Quintão — que chegou a ocupar a liderança por uma semana no início de dezembro —, Newton Cardoso Júnior e Saraiva Felipe.
— Nosso movimento é oferecer a liderança a Minas Gerais. Está na hora de unir o partido, e Picciani não é o nome para unir. Ele desuniu a bancada, colocou os interesses dele e do estado dele acima dos interesses da bancada — critica Lúcio Vieira Lima.
Caciques do partido dizem que a interferência do governo em assuntos internos da legenda foram nocivos. Dilma chegou a conversar com o ministro dos Transportes, Antônio Carlos Rodrigues (PR), sobre a filiação de deputados do PR do Rio ao PMDB, em uma articulação que não funcionou. Por outro lado, as movimentações do vice-presidente, Michel Temer, que procurou se afastar da presidente Dilma Rousseff tão logo foi deflagrado o processo de impeachment, criaram um racha ainda maior entre governistas e oposicionistas no partido.
Padilha prega unidade
Para o secretário-geral do partido, ex-ministro Eliseu Padilha, agora, o lema é unidade. Sob o risco de perder a presidência do PMDB, Temer vai começar a percorrer o Brasil para impulsionar as campanhas municipais e pavimentar o caminho para que o partido tenha um candidato próprio em 2018, quando, ao que tudo indica, não estará mais ligado ao PT. Bastante ligado a Temer, Padilha chegou a dividir com o vice-presidente a articulação política do governo durante parte do ano.
— Nós somos o maior partido do Brasil, vamos voltar a buscar o diálogo com a sociedade. Temos o maior número de prefeitos, de vereadores, de deputados federais, de deputados estaduais, mas não temos conseguido expressar a unidade do partido. Nossa missão é estabelecer um nível mínimo de unidade, uma espécie de Faixa de Gaza onde todos estão. Para a gente ter um projeto nacional de poder, temos que ter unidade — prega Padilha, que pediu demissão da Secretaria de Aviação Civil cinco dias depois que o presidente da Câmara aceitou o pedido de impeachment contra Dilma.
Sucessão de Cunha
Outro tema que ocupará as discussões internas do PMDB é a sucessão de Cunha na presidência da Câmara, caso o Supremo Tribunal Federal (STF) acate a demanda do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que pediu formalmente a saída de Cunha do cargo. Padilha afirma que o partido não abrirá mão da presidência da Casa, mas que o assunto ainda não está na pauta:
— O Cunha ainda está na guerra, não se entregou. O PMDB não abrirá mão da presidência da Câmara. É uma questão do PMDB, vamos querer resolvê-la no partido.
Entre os deputados, a ordem é aguardar até que esteja mais claro se Cunha de fato perderá o cargo e de que forma isso ocorrerá. O presidente da Câmara já deu sinais claros de que vai retaliar com as armas que tiver ao alcance aqueles que cobiçarem o lugar que ainda ocupa. Caso não perca o mandato no processo de cassação de que é alvo no Conselho de Ética e seja apenas afastado da presidência, quem deve assumir o cargo temporariamente é o vice-presidente da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA). Somente quando estiver definida a vacância da presidência os deputados pretendem se expôr na disputa pelo posto.
No Palácio do Planalto o discurso oficial é que o governo não se intrometerá em disputas intrapartidárias e dentro do Legislativo. Mas, além de trabalharem para que Picciani mantenha a liderança do PMDB, emissários da presidente Dilma avaliam que o sucessor à presidência da Câmara deve ter um perfil menos beligerante que o de Eduardo Cunha.
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