- O Estado de S. Paulo
A possibilidade de sucesso de qualquer produto que se ponha à venda está no grau de credibilidade que ele consegue conquistar de cada consumidor. Sucessos de confiança levaram marcas a se transformar em sinônimo do próprio produto. Já a falta de confiança registra fracassos tão retumbantes que determinadas mercadorias tiveram de ser retiradas de circulação logo depois de lançadas no mercado.
A Operação Lava Jato tem o apoio da quase totalidade da população, segundo pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Ipsos. Para 96% dos brasileiros, as investigações devem continuar, custe o que custar. Rapidamente, a Lava Jato está se tornando sinônimo de combate à corrupção.
Já o Executivo e o Legislativo passam por uma crise de confiança. Isso é muito ruim para as instituições, porque elas não são produtos, embora sejam tratadas como tais por alguns políticos. Mas, ao contrário dos produtos, as instituições não podem simplesmente ser descartadas. São necessárias para o equilíbrio democrático e para a sobrevivência do País.
Da parte do Executivo, vai demorar muito para que o presidente Michel Temer consiga se livrar do desgaste de ter se metido num caso particular de seu amigo e confidente Geddel Vieira Lima, que pressionava o colega da Cultura a passar por cima de uma decisão do Iphan e liberar a construção de um prédio em Salvador. Prédio no qual Geddel tem um apartamento.
O governo Temer nasceu de um impeachment, que só foi possível porque a titular do cargo, Dilma Rousseff, levou o País para a bancarrota econômica, a recessão, o desemprego.
Temer, o vice que a substituiu, tinha por obrigação encontrar caminhos para tirar o País da crise econômica, única forma de ganhar credibilidade. Mas em vez de se preocupar com a devolução do emprego aos brasileiros, de se empenhar numa cruzada pela recuperação econômica, ele foi se meter na disputa de interesses de seu ministro baiano. Deixou passar para a sociedade a imagem de que não está empenhado em tirar o País do buraco, e sim em ajudar um ministro que é seu amigo, que é do PMDB, que pressiona outro a cometer uma ilegalidade e que não está nem aí para a precária situação do País. Ministro que quer é se dar bem, tirar o máximo de proveito da cultura patrimonialista que tem corroído as instituições brasileiras por mais de um século.
Tal situação tem levado a sucessivos questionamentos de pensadores da política do País sobre a possibilidade de Temer chegar até 2018. Não há nada pior para a credibilidade de um político do que essa indefinição sobre seu futuro.
Da parte do Legislativo, a situação é até mais crítica. Tanto a Câmara quanto o Senado têm feito de tudo para jogar a combalida credibilidade que têm ao rés do chão. Ou algo pior do que isso.
O que a Câmara fez na madrugada em que houve o acidente com o avião da Chapecoense na Colômbia ainda terá repercussão política, não há nenhuma dúvida. A tentativa de dificultar o trabalho do Ministério Público e do Judiciário, criando punição para procuradores que fizerem denúncias que não levem à condenação do acusado, ou para juízes cujas decisões forem reformadas, é um ato de desespero de quem sabe que tem algo a pagar. Não há outra explicação.
Quanto ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que tentou votar sem ao menos debater a mesma decisão tomada pouco tempo antes pelos deputados, algum assessor precisa dizer com urgência a ele que, definitivamente, não está agradando.
Com suas atitudes cada vez mais estranhas e mais corporativas, Renan vem se tornando o Eduardo Cunha do Senado, aquele para onde se dirige toda a frustração de uma sociedade sem esperanças. Pior mundo não há.
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