Otimismo com a economia começa a crescer, mas, para se manter o rumo, é preciso persistir na política econômica e, por óbvio, aprovar as reformas
Há algum tempo surgem sinais de vida na economia. Um ano de virtual estagnação, 2014, e dois consecutivos que somam a maior recessão já registrada nas estatísticas nacionais — algo próximo dos 7,5%, com grande queda na renda per capita — têm efeito devastador. Há vários ineditismos nesta crise.
Um deles, ser gerada internamente, por erros de política econômica (de Lula e Dilma), e não por impactos externos. O choque sofrido pelo país, a partir de 2009, com o estouro da bolha imobiliária americana, serviu de pretexto para Lula e Dilma executarem o programa do “novo marco macroeconômico”, causa da maior crise fiscal de que se tem notícia, com exceção da em curso na Grécia. Outro fato pouco visto no Brasil é ser uma crise sem disparada da inflação — que escamoteia gastos públicos. Daí, governos terem de ajustar suas contas.
Por tudo isso, a recuperação tem sido e será lenta, até porque um espesso pano de fundo do problema é a perda de confiança na capacidade de Brasília reequilibrar as finanças do Estado. Daí o impeachment de Dilma ter sido chave para a reconstrução da economia do país. Os bons sinais continuam tênues, porém mais consistentes.
No início da semana, o IBC-Br, indicador do Banco Central que estima o comportamento do PIB, apontou para um crescimento de 1,12% na produção da economia, no primeiro trimestre. Questões metodológicas levam analistas a ver com reserva o resultado. Mas o mercado esperava um retrocesso de 1% em março, e ele foi de 0,4%. A economia se move.
A supersafra de grãos — 232 milhões de toneladas, aumento de 24,3% sobre a colheita anterior — propaga efeitos positivos pela economia. E as boas notícias sobre o mercado de trabalho em abril são coerentes com o cenário esboçado pelo índice do Banco Central. Um desemprego de mais de 14 milhões de pessoas é devastador. Ainda é algo incipiente, mas a criação líquida de 59.856 empregos formais em abril, de acordo com o Ministério do Trabalho, parece anunciar o início da mudança da tendência.
O ex-ministro Mário Henrique Simonsen costumava dizer que em economia não há fundo do poço. Quando o PIB cai, se nada for feito para conter a queda e revertê-la, a tendência é mantida, até a desestruturação do sistema produtivo. O caso da Venezuela é exemplar. O projeto do “Socialismo do Século XXI", lançado por Chávez, destruiu empresas privadas e a própria estatal de petróleo. Nicolás Maduro, seguidor e sucessor, tem levado o projeto suicida até o fim. Também não há recuperação apenas pelo efeito da gravidade. O que acontece neste tímido desafogo se deve a medidas corretas: um BC respeitado e sinalizações corretas de política econômica. É preciso continuar nesta direção, incluindo, por óbvio, a execução das reformas da Previdência, a trabalhista etc.
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