Temer deu aval para ‘comprar’ Cunha, diz JBS
Donos da JBS, os irmãos Joesley e Wesley Batista, que fecharam delação, teriam gravado conversa; presidente diz que ‘jamais solicitou pagamentos’ a empresário
Andreza Matais | O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, relatou em sua delação premiada que o presidente Michel Temer deu aval a uma operação para comprar o silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso na Operação Lava Jato. Joesley teria gravado o diálogo com Temer, ocorrido no dia 7 de março, no Palácio do Jaburu. A informação foi divulgada na noite desta quarta-feira, 17, pelo site do jornal O Globo e confirmada pelo Estado.
Segundo o jornal, o empresário disse ao presidente que estava pagando mesada a Cunha e a Lúcio Funaro, apontado como operador do ex-presidente da Câmara, para que ambos ficassem em silêncio sobre irregularidades envolvendo aliados. “Tem que manter isso, viu?”, teria afirmado Temer ao empresário. Joesley e seu irmão Wesley Batista firmaram um acordo de delação premiada. As gravações foram entregues à Procuradoria-Geral da República.
Em nota, o Palácio do Planalto confirmou o encontro de Temer com Joesley, mas afirmou que o presidente “jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio” de Cunha. “Não participou nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar.”
Joesley também gravou conversa com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) em que o tucano pede R$ 2 milhões sob o argumento de que precisaria de ajuda para sua defesa na Lava Jato. Na delação, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega é citado como intermediário de propina ao PT.
Após a divulgação da delação, parlamentares apresentaram pedidos de impeachment do presidente na Câmara. Em São Paulo e em Brasília, manifestantes foram às ruas pedir a sua renúncia. A área econômica já discute cenários sobre o impacto na economia.
A gravação da conversa em que Temer dá aval para que Joesley pague pelo silêncio de Cunha, preso pela Lava Jato em Curitiba, foi feita por iniciativa do empresário, segundo apurou o Estado com investigadores.
No diálogo, Joesley teria dito ao peemedebista que estava pagando uma mesada a Cunha e a Lúcio Funaro, apontado como operador do ex-presidente da Câmara, para que ambos ficassem em silêncio sobre irregularidades envolvendo aliados. “Tem que manter isso, viu?”, disse Temer a Joesley.
Em seu depoimento aos procuradores, Joesley afirmou que não foi Temer quem determinou a mesada, mas que o presidente tinha pleno conhecimento sobre os pagamentos.
No diálogo, captado por meio de um gravador escondido, Temer teria indicado a Joesley o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para resolver um assunto da J&F (holding que controla a JBS) no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Na conversa, o empresário ainda perguntou a Temer se poderia tratar “de tudo” com o parlamentar, ao que o presidente teria respondido: “Tudo”.
Em nova gravação entregue aos procuradores, feita em vídeo dias depois, Loures foi flagrado recebendo uma mala com R$ 500 mil que teria sido enviada por Joesley. A conversa e a entrega do dinheiro teriam ocorrido em março.
Cunha. Além da mesada a Cunha, Joesley disse à Procuradoria-Geral da República que pagou R$ 5 milhões para Cunha após o peemedebista ter sido preso, no ano passado, e que havia combinado dar mais R$ 20 milhões referentes à tramitação de uma lei que beneficiaria a JBS. Joesley contou que já pagava a mesada a Cunha havia alguns meses. O acordo foi assinado por sete delatores. O site O Antagonista informou nesta quarta que a delação premiada da JBS vai atingir 1.890 políticos, de presidente a vereador.
Diferentemente de outras delações, no caso da JBS, a Lava Jato promoveu “ações controladas”, em que a operação policial é adiada para que seja possível obter flagrantes que possam ser usados como provas nas investigações. Além de filmagens da entrega de propina, as malas ou mochilas em que o dinheiro era transportado foram equipadas com rastreadores e cédulas tiveram seus números informados aos investigadores.
A delação foi fechada com a PGR e não com a Polícia Federal, que participou do processo a penas quando acionada. Investigadores dizem que as informações abrem várias frentes de apuração, que serão analisadas individualmente. Os investigadores chamam atenção para o fato de a delação de Joesley ser a segunda da Lava Jato a acusar Temer de pedir dinheiro.
COM A PALAVRA, MICHEL TEMER
NOTA À IMPRENSA
O presidente Michel Temer jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. Não participou e nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar.
O encontro com o empresário Joesley Batista ocorreu no começo de março, no Palácio do Jaburu, mas não houve no diálogo nada que comprometesse a conduta do presidente da República.
O presidente defende ampla e profunda investigação para apurar todas as denúncias veiculadas pela imprensa, com a responsabilização dos eventuais envolvidos em quaisquer ilícitos que venham a ser comprovados.
COM A PALAVRA, O DEPUTADO RODRIGO DA ROCHA LOURES
O deputado Rodrigo da Rocha Loures (PMDB-PR) está em Nova York, de acordo com sua assessoria. O peemedebista já havia viajado para um encontro com investidores antes da delação feita pelo dono da JBS, Joesley Batista, à Procuradoria-Geral da República. O espaço está aberto para manifestações.
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