- Valor Econômico
Dez casas veem juro real de 2,2% a 2,5% por muito tempo
Menos inflação, menos juros e mais crescimento, embora lento, compõem o roteiro que o Brasil deve seguir ao menos até o primeiro semestre do ano que vem se o atual governo não inventar moda e o próximo convencer que é reformista. A eleição para presidente, governadores, deputados federais e parte do Senado aumenta o risco de projeções mais longas. Por ora, o ano de 2018 está "dado" - "conhecido" - no jargão do mercado.
A prioridade para 2019 é mais que conhecida: a reforma da Previdência. O crescimento esteve no topo das prioridades dos governos ao menos nos últimos cinco anos mas tornou-se um fato validado de três em três meses com a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O crescimento é modesto e assim continuará sem avanços na área fiscal que estabilizem a dívida pública e levem a posterior redução.
O governo Temer em breve completará dois anos. Neste período, decisões importantes foram tomadas e aplicadas. Outras não tiveram sequência porque a política partidária padece de gigantismo; a Lava-Jato, com toda a sua dedicação e mérito, não conseguiu vacinar o país contra os interesses pessoais que se sobrepõem aos interesses coletivos; e a eleição à frente é fonte de incertezas que vão além das inerentes a processos sucessórios. A sete meses das eleições quem tem bom juízo não aposta em quem será o próximo presidente e tampouco no Brasil que sairá das urnas.
Craques em palanque digital, pré-candidatos à Presidência da República ou os que assim se apresentam defendem as reformas. Contudo, a pulverização das candidaturas sugere que obter maioria no Congresso exigirá - como sempre - intensas negociações sem qualquer garantia de que, em algum momento, será minimamente crível que propostas impopulares serão defendidas e aprovadas em suas duas Casas.
Dê certo, o governo atual e o próximo têm a seu favor condições inéditas para reformas propiciadas, sobretudo, pela política monetária do Banco Central (BC). Inflação e juros marcam recordes de baixa. As famílias realizam um ajuste espetacular do orçamento com recursos do FGTS que começaram a ser liberados há um ano e liquidaram milhões de reais em dívidas. Neste ano, os brasileiros podem se atrever a consumir mais, inclusive, porque a inflação nanica rende folga adicional no bolso. Mas o futuro é incerto e os desempregados são muitos.
Em fevereiro, a inflação oficial completou o oitavo mês consecutivo abaixo do piso da meta. No atual ciclo monetário que começou em outubro de 2016, a Selic já caiu 7,50 pontos percentuais e deve ser reduzida em mais 0,25 ponto, para 6%, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que termina no próximo dia 21. Há meses entre 2,2% e 2,5%, o juro real aí deve permanecer, e isso significa estímulo monetário à atividade. O risco externo vem sendo ampliado com a tentativa dos maiores bancos centrais do mundo de normalizar a política monetária frente a taxas de inflação crescentes. Estripulias do presidente Donald Trump, como taxar importações de aço e alumínio, impõem maior cautela. Assim como a aproximação das duas Coreias, que sugere bem mais que o reencontro de irmãos.
A coluna mapeou relatórios de dez casas - bancos, gestoras de recursos e consultorias - com a intenção de identificar com quais cenários trabalham. A pesquisa reuniu Banco ABC Brasil, Bank of America Merryll Lynch, Bradesco, Banco Fator, Itaú Unibanco, MB Associados, MCM Consultores Associados, Pastore & Associados e UBS. Um banco estrangeiro pediu para não ser identificado.
Algumas dessas casas - e outras não mencionadas - atualizaram suas projeções para indicadores econômicos na semana passada. O saldo dos ajustes leva a menos inflação, menos juros e mais crescimento. Acionaram o gatilho três informações: PIB do quarto trimestre e de 2017, produção industrial de janeiro e inflação de fevereiro. A expansão do PIB, de 1% no ano, foi bem recebida. A do quarto trimestre, 0,1% sobre o anterior, decepcionou ao retratar um consumidor passivo. A produção industrial, em queda de 2,4% na passagem de dezembro para janeiro, foi maior que a esperada, mas o avanço de 2,8% em 12 meses e de 5,7% na comparação interanual indicaram que o pior já passou, apesar do crescimento lento. A inflação - medida pelo IPCA-15 e IPCA - no patamar de 2,8% em 12 meses aumentou o crédito do BC junto ao mercado que está comprando mais um corte na Selic antes de uma estabilidade prolongada.
Amanhã, o IBGE apresenta o resultado do comércio varejista e, na sexta, do setor de serviços. Ambos de janeiro. Entre um anúncio e outro, o BC deve publicar o seu Índice de Atividade (IBC-Br). Esses três dados podem provocar mais uma revisão de projeções. Contudo, os resultados precisam ser muito ruins para alterar a avaliação, de ao menos metade das instituições citadas, de que o PIB deste ano pode subir 3% e, em 2019, algo entre 2,8% e 3,7%. Economistas responsáveis pelos relatórios mapeados elegem a melhora do mercado de trabalho a principal variável a favorecer as expectativas.
"De forma geral, o cenário para a atividade continua a se apoiar na visão de que a política monetária cumprirá seu papel de estimular a demanda agregada ao longo do ano, via consumo e investimentos", afirma a MCM para quem a retomada está sujeita a "oscilações de curto prazo dos indicadores de atividade, mas a tendência segue favorável devido aos fundamentos positivos: inflação baixa, aumento da confiança de empresários e consumidores e melhora do mercado de trabalho e do crédito.
O Bradesco entende que o impulso monetário vai acelerar o PIB neste ano, mas em ritmo mais lento do que o previsto. "Temos observado menor ritmo de vendas de automóveis, a taxa de desemprego tem cedido mais lentamente e a atividade de serviços também tem exibido resultados modestos. Se os números mais fracos de atividade no primeiro trimestre se confirmarem, é mais provável uma revisão baixista do que altista da nossa projeção para o PIB de 2018 [de 2,8%]."
O Fator considera dados a atividade e a inflação, portanto os juros, este ano. O consumo depende da desalavancagem das famílias. Os investimentos das empresas serão incapazes de estabilizar o crescimento do PIB para 2019 adiante.
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