Anúncio de aplicação de sobretaxas sobre importações de aço e alumínio gera repúdio do partido, de aliados internos e externos e de líderes empresariais
Ao anunciar, na quinta-feira passada, a taxação das importações de aço e alumínio, Donald Trump deu os passos iniciais de uma guerra de tarifas com parceiros comerciais, cujo impacto no crescimento global é imprevisível. Internamente, a iniciativa também sinaliza que o presidente americano abandonou de uma vez por todas as ambiguidades ideológicas de seu governo, aderindo sem pudor à lógica econômica populista, que, se por um lado, agrada a uma parcela de seus eleitores, por outro, o coloca em frontal contradição com os preceitos liberais do partido que lhe dá sustentação.
O anúncio foi feito bem ao estilo populista do presidente, com o Salão Oval tomado por operários e sindicalistas das categorias supostamente beneficiadas. Segundo o decreto, o Departamento de Comércio vai aplicar sobretaxas de 25% sobre as compras de aço no exterior e de 10%, no caso do alumínio. A medida, que entrará em vigor em duas semanas, afeta parceiros como Brasil, China, Japão, Índia, Austrália e União Europeia (UE), que já avisaram que vão retaliar. Trump concederá uma trégua temporária ao Canadá e ao México, enquanto durarem as renegociações do Nafta, o acordo comercial entre os três países.
Apesar da clara intenção de beneficiar os setores de alumínio e siderúrgico, o governo argumenta que o decreto tem status de segurança nacional, o que lhe dá poderes mais amplos e menos transparência.
Líderes e militantes republicanos, que se opõem ao protecionismo e consideram o liberalismo econômico e a abertura de mercados como pilares de sua ideologia, se sentem assombrados diante da constatação de que o instinto político que norteia as decisões de Trump não necessariamente coincide com os valores do partido. Embora tais contradições já fossem latentes desde a campanha presidencial, esta é a primeira vez em que elas se manifestam de maneira cristalina, tanto pela forma unilateral como a medida foi tomada, ignorando as ponderações de aliados políticos e assessores, como pelas reações internas que causou.
As discrepâncias ficaram claras com a divulgação de uma carta assinada por mais de cem deputados republicanos, em que expressam profunda preocupação com o rumo tomado pela Casa Branca. O presidente do partido, Paul Ryan, não fez segredo de sua posição em relação às taxações: “Eu discordo!”. A reação mais contundente, porém, foi a do então chefe do Conselho Econômico Nacional, Gary Cohn, que pediu demissão por divergir da medida.
E o mal-estar não se limita aos republicanos e aos aliados externos, acusados por Trump de “saquear” a economia americana. Vários líderes empresariais e economistas consideram o nacionalismo de Trump um retrocesso perigoso, com efeitos negativos no próprio país.
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