Por Andrea Jubé e Carla Araújo | Valor Econômico
BRASÍLIA - A menos de um mês das convenções para definição das alianças, e em meio a uma rodada intensa de conversas em torno das composições nacionais, a cúpula do MDB reúne-se na terça-feira para discutir o futuro da sigla: se mantém a pré-candidatura de Henrique Meirelles à Presidência, ou se o partido caminhará livre no plano nacional, sem atrelar-se a nenhum candidato. Um cacique nacional adianta que não haverá meio termo: com seis minutos de tempo de propaganda na televisão, o MDB não comporá com um candidato que não se disponha a defender o legado de Michel Temer.
"Hoje a tendência é o MDB ir sozinho com Meirelles, se alguém quiser se aliar, venha", diz um dirigente da sigla. "O Meirelles será um continuador das ações do governo, mas terá que agregar um discurso social à parte econômica, as ações do governo Temer foram muito boas", complementa.
Esta liderança acrescenta que as pesquisas neste momento também devem ser interpretadas conforme o índice de rejeição dos candidatos. "Pela rejeição dos que estão hoje na frente, vocês vão ver que dificilmente eles estarão lá na reta de chegada", observa.
É por isso que se consolidou no entorno de Temer a leitura de que os brasileiros estão indo para o primeiro turno com cabeça de segundo turno, porque já sabem "em quem não irão votar". Nesse cenário, a cúpula emedebista que deseja a candidatura própria aposta na baixa rejeição de Meirelles, de 17% segundo a última pesquisa Datafolha, de 11 de junho.
Neste levantamento, os candidatos que tentam atrair os aliados do MDB para suas alianças aparecem com índices negativos maiores que os de Meirelles: Geraldo Alckmin (PSDB) é rejeitado por 27% dos eleitores, e Ciro Gomes (PDT) por 23%.
A reunião da Executiva do MDB no dia 26 não é decisiva: ela indicará um norte para a convenção nacional, no final de julho, quando somente então o destino do partido estará selado diante da Justiça Eleitoral. Se a maioria dos mais de 600 convencionais do MDB não chancelar a candidatura do ex-ministro da Fazenda, a sigla marchará solta na sucessão presidencial.
Nesta hipótese, o tempo de propaganda e a ampla capilaridade do partido, com mais de três mil prefeitos, serão negociados no plano das alianças estaduais. A Executiva também vai discutir nesta reunião outro tema delicado: a divisão dos recursos do fundo eleitoral, atribuição delegada à cúpula partidária.
Meirelles articula de olho no relógio: tem pouco mais de um mês até a convenção para percorrer mais 14 diretórios estaduais do MDB a fim de convencer as lideranças locais quanto à viabilidade de seu projeto presidencial.
A bandeira da retomada do crescimento econômico, com retração inflacionária e queda dos juros, é o trunfo do MDB, mas Temer também quer uma defesa de suas ações no plano social. Na última terça-feira, ele cobrou dos ministros da área mais divulgação de seus feitos, como os dois reajustes do Bolsa Família.
O MDB sabe que o tempo de propaganda é um ativo ainda mais valioso numa eleição em que candidatos como Alckmin alegam que se viabilizarão quando começar a campanha no rádio e na televisão, o que só ocorrerá a partir de 31 de agosto.^
Do outro lado, lideranças de partidos do Centro que defendem a aliança em torno de Alckmin - alas do DEM, PP, PR, PTB, PRB, PSC -, advertem que o MDB ficou "pesado demais para carregar".
Por isso, sustentam que o partido não deveria se isolar na campanha: a melhor saída seria o apoio discreto ao tucano. No desenho traçado pelos aliados, o MDB não teria um lugar de visibilidade na chapa, mas cederia seus ativos à coligação: tempo de TV e capilaridade municipal.
Restaria ao MDB negociar colocações no primeiro escalão do futuro governo e no comando das duas Casas Legislativas.
Mas este cacique do MDB descarta essa proposta com um sorriso enviesado: "Então, se é assim, eles não querem nada [com o MDB]."
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