Se o lado externo da economia está sob controle, há indefinições no front interno — em que se destaca o quadro eleitoral — que justificam manter os juros no mesmo nível
Não se esperava mesmo que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, alterasse a taxa básica de juros, estacionada em 6,5%, o mais baixo índice da história da Selic. Há um nevoeiro denso em torno da economia brasileira, com escassa possibilidade de se enxergar à frente. Melhor manter estacionada a política monetária.
A greve de caminhoneiros ainda não se refletiu por inteiro nos índices, embora não haja dúvidas de que impulsionará a inflação e servirá em alguma medida de freio na tímida expansão da economia. Então, é preciso aguardar para ver. Mas não se espera algo desastroso.
A interrupção de linhas essenciais de suprimento de grandes centrais de distribuição de alimentos no Rio e em São Paulo, por exemplo, teve forte impacto nos preços, depois revertido à medida que as estradas eram desobstruídas.
As pressões que o dólar enfrenta no mundo e internamente — deflagradas pela expectativa, confirmada, de elevação dos juros americanos — não mais justificam, como tantas vezes no passado, que o BC eleve os juros para atrair divisas. Pois as reservas acumulam US$ 380 bilhões, suficientes para caucionar operações de “swap” (vendas de dólar a futuro, sem a entrega física da moeda), a fim de conter oscilações bruscas. O poder de fogo é elevado. Nunca o Brasil, no setor externo, esteve numa posição tão segura em meio a uma crise. O modelo clássico de estresse externo brasileiro é o esgotamento de reservas e a alta descontrolada do câmbio. Sempre o desfecho passava por um pedido de socorro ao Fundo Monetário, para repor reservas. É o que acaba de fazer a Argentina de Macri. Precisou de US$ 50 bilhões, para enfrentar especulações contra o peso.
A própria inflação, de 2,68%, mantida abaixo da meta de 4,5%, dá segurança à autoridade monetária (BC), que projeta o mesmo índice para este ano; e o mercado, segundo o relatório Focus, aponta para 3,88%. Isso significa que o que for repassado do câmbio (ou da greve dos caminhoneiros) para a inflação não causará sustos. Mesmo porque, com um nível baixo de atividade — já há quem espere um crescimento aquém dos 2% —, os repasses não deverão ser integrais.
A indefinição do quadro eleitoral é outro aspecto levado em conta. Não se discute entre os melhores analistas econômicos, independentemente de posicionamentos políticos, que um ajuste fiscal, tendo a Previdência como prioridade, é estratégico para a transição do país rumo a um crescimento sustentável a um ritmo necessário à aceleração da queda do elevado desemprego.
Mas, como sempre, o discurso populista é mais fácil e cativante. Porém, ainda não se sabe em que medida uma candidatura com este figurino pode prosperar, quando a campanha ganhar velocidade, com o programa eleitoral no ar. É de fato sensato aguardar.
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