Folha de S. Paulo
Nova
obra de Steven Pinker é boa, mas dá a sensação de que o autor se repete
“Rationality”, o novo livro de Steven Pinker, é bom, mas terminei a leitura com a sensação de que o autor já se repete. Esta, afinal, é a terceira obra em que o psicólogo cognitivo de Harvard tenta mostrar que o avanço da ciência e de outras instituições baseadas na razão está por trás de conquistas da humanidade, que está se tornando mais próspera, mais saudável, menos violenta e menos preconceituosa. O primeiro desses livros foi “Os Anjos Bons da Nossa Natureza” (2011); o segundo, “O Novo Iluminismo” (2018). Chega uma hora em que contar a mesma história com outras palavras se torna indistinguível de pregar só para os convertidos.
Desta
vez, Pinker trocou
a profusão de dados empíricos pelos fundamentos. Os nove primeiros capítulos de
“Rationality” podem ser descritos como um manual de pensamento crítico com um
anexo sobre probabilidade e estatística —mas o leitor não precisa temer o qui
quadrado, pois Pinker fica
só nos princípios gerais. Ele começa explicando o que são racionalidade e
lógica e afirma que todos os seres humanos se utilizam delas, desde tribos de
caçadores que rastreiam um animal até os anti-vaxxers que não deixam de tomar
antibióticos. Seguem-se várias seções em que ele apresenta as falácias formais
e as informais que corrompem nosso pensamento. Como Pinker escreve muito bem e
sobra-lhe humor —há até uma piada em iídiche—, lê-lo é sempre prazeroso.
O
filé mignon é reservado para os dois últimos capítulos em que o autor tenta
explicar por que a racionalidade parece ser mais um dos muitos produtos em
falta no mundo de hoje e por que seria importante tentar resgatá-la. Adianto
apenas que estamos diante de um problema análogo à tragédia dos comuns. As
pessoas, ao utilizar a razão com objetivos individualistas, como o de ganhar
prestígio entre seus pares, acabam erodindo-a em sua dimensão coletiva, que é a
que nos proporcionou os bons resultados.
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