Blog do Noblat / Metrópoles
Bolsonaro e seu grupo usam e abusam da
bandeira do Brasil como se fosse deles e esquecem que elas simbolizam a
realidade do país de todos
As forças progressistas no poder entre 1992
e 2018 mostravam mais as bandeiras de seus partidos do que a bandeira nacional;
a partir de 2019, as forças conservadoras se apropriaram dos símbolos nacionais
como se fossem propriedade de seus partidos. O atual presidente e seu grupo
ideológico que usam e abusam da bandeira do Brasil como se fosse deles e
esquecem que elas simbolizam a realidade do país de todos.
Para os que se formaram na academia do
presidente, a bandeira é o país deles, brancos, ricos, heterosexuais, cristãos,
e não o símbolo de uma nação com povo, natureza, história, futuro. Tratam a
Amazônia como território, não como floresta e água; não respeitam nossos índios
como parte do Brasil; não aprenderam que o Brasil real tem diversidade étnica,
sexual, religiosa. Não levam em conta que os milhões de pobres, inclusive com
fome, são também parte representada por nossa bandeira.
Na escola que o presidente se formou, a bandeira é o país de poucos, ela prescinde do povo brasileiro em toda sua diversidade. Pena que na academia em que o presidente se formou, a bandeira verde e amarela não seja o símbolo da alma do Brasil, seu povo, cuja permanência vem de suas crianças e da educação que elas receberão.
Defendem gastar bilhões para fazer
submarinos que defenderão o petróleo do Pré-Sal enterrado no fundo do oceano,
mas não defendem o uso dos recursos necessários para desenvolver o potencial de
cada criança ao longo da educação pré-escolar e básica. Elaboram estratégias
militares para ocupar o solo onde estão nossos rios e florestas, mas fecham os
olhos e até promovem e louvam a destruição da natureza, desde que o território
continue fazendo parte do mapa. Tampouco entendem que a bandeira que orgulha
nas quadras de esporte deve também orgulhar nos podiums do saber: das artes, da
ciência e da tecnologia. Até porque, daqui para frente, as guerras se farão
mais por cientistas do que por soldados.
Deveriam entender que a bandeira é a
representação do Brasil de todos e defender as transformações e revoluções
necessárias para que o Brasil seja de todos e para todos, sem concentração de
propriedade e renda, sem condenação de milhões à pobreza; sem deixar para trás
os cérebros por falta de educação.
É preciso romper com a ignorância de ver a
bandeira como a realidade e não como símbolo da realidade de todos nós, o
Brasil de florestas, rios, negros, brancos, índios, muçulmanos, judeus,
cristãos de todas as denominações, ateus, todos somos parte da realidade que a
bandeira simboliza.
*Cristovam Buarque foi senador, governador
e ministro
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