O Globo
Por Alvaro Gribel (Míriam Leitão está de férias)
Um ex-ministro liberal com passagem por
várias administrações federais é taxativo: não há motivo para receios sobre a
condução da economia em um eventual governo Lula. A visão é de que o
ex-presidente tem uma compreensão prática sobre o tema e aprendeu que o maior
prejudicado pelas crises fiscais é o próprio trabalhador, na ponta. “Lula sabe
mais de economia do que muitos economistas. Se há descontrole fiscal, o dólar
sobe, a inflação sobe, e o trabalhador perde. Isso é muito claro na cabeça
dele”, afirmou o economista, que participou direta ou indiretamente de todos os
governos do país nos últimos 15 anos, até a transição para Bolsonaro.
Ontem, pesquisa eleitoral da Genial/Quaest mostrou novamente Lula isolado na frente, vencendo em todos os cenários. No mercado financeiro, há uma busca por interlocutores que consigam decifrar o mistério da agenda econômica do candidato petista, que até agora deu poucos sinais dos caminhos que pretende seguir. Esse economista acredita que, se por um lado a pauta de privatizações deve sofrer um baque, por outro, o país ganhará com a estabilidade institucional, com reflexo sobre o dólar e os investimentos.
— O mercado já está vendo que é muito
melhor ter um presidente que gaste um pouco mais com o social, mas sem perder o
controle da política fiscal, do que um presidente que pode criar uma crise de
grandes proporções a qualquer momento. O gasto a mais pode ter previsibilidade,
a instabilidade institucional é um risco incalculável — afirmou.
Ainda assim, ele explica que há uma mudança
de gerações dentro do PT que deixou o partido mais radicalizado. Por isso,
acredita que caberá ao próprio Lula ter o controle da agenda política e
econômica, para buscar as alianças e composições que viabilizem o seu governo.
Esse economista, que participou dos governos Lula, Dilma e Temer, entende que o
BNDES teria o papel reforçado nos investimentos, mas sem voltar à política dos
campeões nacionais.
— Não vejo os campeões nacionais voltando.
Houve um grande aprendizado sobre isso no PT. E também há um ressentimento
muito grande dentro do partido sobre a participação dos grandes grupos no
processo de impeachment. O foco seriam as pequenas empresas — disse.
Entre os possíveis nomes para o Ministério
da Economia, a aposta é no ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles,
mesmo que hoje ele esteja ao lado do governador João Dória. Além dele, Lula
teria proximidade com o ex-diretor-executivo do Banco Mundial Otaviano Canuto.
Ainda que seja um outro nome, a convicção dessa fonte é de que nada parecido
com o descontrole fiscal do primeiro mandato de Dilma aconteceria em um
terceiro governo Lula.
Contas em atraso
Pesquisa da CNI com o Instituto FSB mostrou
que quase a metade dos brasileiros que contraíram dívidas em 2021 estão
inadimplentes. Em 12 meses até novembro, 44% dos endividados tinham parcela em
atraso, contra 46% que estavam em dia (veja o gráfico). Os outros 10% que
contraíram dívidas já haviam quitado o financiamento. A inadimplência é maior
entre jovens de 16 a 24 anos (58%) e pessoas com renda de até um salário mínimo
(56%). A pesquisa ouviu 2.016 pessoas em todos os estados.
Dilema na conta de luz
Com o aumento do nível de água dos reservatórios, começou a pressão para a redução da bandeira tarifária, hoje sob regime de escassez hídrica. O Conacen enviou ofício à Aneel pedindo a redução imediata da bandeira. A medida também agrada ao presidente Bolsonaro, que está carente de boas notícias na economia. O problema é que a bandeira extra está cobrindo o déficit das distribuidoras, que será pago pelos consumidores. Se houver a redução, o empréstimo autorizado por Bolsonaro para cobrir o rombo será maior e pago com acréscimo de juros. O alívio agora custará mais caro depois.
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