O Estado de S. Paulo.
Candidatos esperam de economistas a fórmula que não existe sobre decisões políticas
É grande a preocupação com as escolhas que
os candidatos em 2022 fazem de seus economistas. É uma ciência social capaz de
alterar a realidade que ela estuda, mas essa escolha de nomes diz pouco como
será o governo.
Dois erros são recorrentes quando se tenta
“avaliar” o candidato a partir da escolha de seus economistas. O primeiro é
esperar que políticos sigam os conselhos “técnicos” dos economistas. O segundo
é acreditar que a ciência econômica tenha respostas para os problemas que cabe
à política resolver.
Políticos tratam de fazer o eleitorado
acreditar que é possível ter um bolo e comê-lo ao mesmo tempo. Tal como a
política, porém, a economia é uma atividade de persuasão, e qualquer plano
econômico precisa de legitimidade política – daí o fato generalizado de
economistas se alinharem a políticos, e não o contrário (Paulo Guedes é apenas
o mais recente exemplo disso).
Na relação entre economia e política, sempre submetida ao mais curto prazo eleitoral, economistas tendem a pronunciar baixinho as verdades inconvenientes e bem alto as certezas das quais não estão tão seguros assim. Avançou muito o conhecimento empírico em economia, mas continua fluida a fronteira entre “consenso profissional” e a simples conjectura, influenciada por crenças políticas.
Economistas adoram dizer que tudo seria
diferente se os políticos fizessem as reformas necessárias. Para os políticos,
se a reforma não é politicamente viável, então a análise econômica está
equivocada. Fora o fato de que no Brasil conselhos bem fundamentados vindos da
academia ou de consultorias perdem fácil para o poder de pressão de lobbies e a
articulação corporativista.
A escolha dos economistas diz pouco sobre o
que vai ser o próximo governo sobretudo por conta de uma questão abrangente,
impossível de ser tratada com profundidade na gritaria de rede social. É o fato
de que não há uma resposta certa para qual o limite de atuação entre mercado e
Estado, pois isso depende de mudanças econômicas, tecnológicas e políticas que
se alteram no tempo (basta considerar o papel da intervenção governamental por
conta da pandemia).
Vivemos num mundo sem fórmula clara sobre
como moldar decisões políticas sobre economia, em meio a enorme mistura de
ideias – tanto estatistas quanto liberais – combinadas ao descontentamento e
perda de confiança em instituições e sistemas políticos.
Vai depender mesmo é do político e da
política. O sempre citado Keynes recomendava escolher economistas como se
escolhe um dentista: alguém humilde e competente, que conserte erros e se
dedique a mudanças modestas na vida das pessoas.
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