O Globo
A próxima, é uma das eleições mais
importantes na história do Brasil, pela definição do que somos e do que
queremos ser
No governo brasileiro, os produtores de
cultura, artistas e intelectuais, têm a cuidar deles apenas a Secretaria
Especial de Cultura, conduzida até quinta-feira passada pelo ator Mario Frias.
Assim, com tanto problema em torno e pela frente,ficamos condenados a somente
discutir porque nosso ex-Secretário de Cultura, que atendia num departamento do
Ministério do Turismo, teve que viajar para Nova York afim de negociar a
filmagem de uma luta de jiu-jitsu com a participação de um velho herói
brasileiro no gênero. Um Gracie que hoje é, se não me engano, sócio de uma
academia do esporte na Califórnia. Para esse primeiro passo na produção do
filme, Frias foi obrigado a gastar quase 80 mil reais, um dinheiro que anda
faltando em nossa economia do audiovisual, por exemplo, só agora contemplada
com uma Lei Paulo Gustavo, que só peço a Deus que o presidente não vete.
O presidente, todo mundo sabe, não cultiva nossa cultura, não acha a menor graça no que fazemos com ela, não gosta de perder tempo com essa besteirada. A besteirada se refere à criação de um povo que passa fome no nordeste, se afoga nas enchentes do Centro-Oeste, não taca suficiente fogo nessa Amazônia inútil e distante que impede de sermos considerados desenvolvidos e civilizados. O presidente é um homem de bom gosto, ele prefere o respeito a nossas qualidades civilizadas, do que essa obsessão que as nações ricas e chiques têm por nossas matas. De preferência, intocadas.
Olhar para trás e tentar descobrir o que o
povo prefere é uma perda de tempo. Não vale à pena, por exemplo, insistir nesse
carnaval gagá, nessas festas que só gastam o dinheiro do governo sem nenhum
proveito para quem está à frente dele. Do governo, claro. Nossa sábia
administração deixa isso para governadores e prefeitos, que juntarão seus tostões
para atender à sofreguidão malemolente da população local. É melhor assim, mais
justo e capaz de gerar discursos eleitorais mais eficientes para o futuro
político de cada um. E depois ainda não se sabe mesmo como bispos, pastores e
outros religiosos reagirão a tudo isso em outubro.
Pois esses últimos, os outros religiosos,
estão hoje liderando em silêncio nosso desenvolvimento político, aquilo que
afirmamos preferir com o resultado das nossas eleições regulares. Para que
mexer naquilo que está dando certo para nós?
É pelo menos curioso saber, pelas pesquisas
eleitorais, que doze anos depois de deixar o governo, Lula, o adversário do
presidente em outubro, continua a ser responsabilizado pelo sucesso de seus
programas sociais, como o Bolsa Família ou o Minha Casa Minha Vida, enquanto
que o recente similar presidencial já foi quase esquecido ou está até sendo
negado pelos que precisam. Na URSS dos anos 1930, quando Moscou era uma festa,
foi preciso que um jornalista estrangeiro escapasse da proteção paternal de
Stalin e viajasse incógnito pelo país para constatar e registrar a fome que ali
se vivia, sob o desastre da economia soviética. Quando a violência
anti-democrática se manifesta, não tem preferência por ideologia. Partido,
então, nem se fala.
A próxima é uma das eleições mais
importantes na história do Brasil. Mais importante mesmo que as disputas
recentes pela definição do que somos e do que queremos ser. Ainda temos
políticos, alguns líderes partidários ou de tendências específicas, que se
arvoram em falar em nome dos outros, os que sofrem sem ter quem os represente.
Amanhã, segunda feira (4), quem sonhava em participar dessa disputa já se
desvencilhou do que podia lhes impedir de agir, está liberado para dizer e
fazer o que quiser afim de ganhar um papel no voto de nossos eleitores. Mais do
que nunca, precisamos estar atentos para não fazer besteira, elegendo quem não
merece, quem não está nem aí para nós mesmos e para o futuro de nossas
famílias, de nosso povo.
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