O Globo
Vamos assistir daqui para frente a uma
disputa encarniçada no PSDB e no União Brasil para a indicação de um candidato
à presidência da República, o que só facilitará a polarização entre Lula e
Bolsonaro. No União Brasil, partido nascido da fusão do PSL com o DEM, o
presidente Luciano Bivar, que liderava o PSL quando Bolsonaro foi eleito em
2018, quer repetir a dose com Moro, mas o vice-presidente, ex- prefeito de
Salvador ACM Neto, anuncia que vai impugnar sua filiação.
Será uma briga político-jurídica que tomará a energia da campanha presidencial,
que é importante para Bivar, e não para ACM Neto e outros candidatos a governos
estaduais. O fato é que nenhum partido quer o ex-juiz Sérgio Moro como
candidato. Mesmo no Podemos, já estava sendo pressionado para se candidatar a
deputado federal. Os políticos, de maneira geral, não gostam do Moro por causa
da Operação Lava Jato. Mas gostariam de tê-lo como deputado federal para ser um
puxador de votos.
Os cálculos são de que ele teria, por baixo, mais de 1 milhão de votos, e
ajudaria a aumentar a bancada, a arrecadação do fundo partidário e do fundo
eleitoral. Se não tiver nenhum partido para dizer que é pré-candidato à
presidência, não aparecerá nas pesquisas eleitorais, pois mesmo que os
institutos de pesquisa coloquem Moro e Eduardo Leite entre os candidatáveis, os
que são contra entrarão com ação no Supremo Tribunal Federal (STF).
Bastaria à ala do DEM que não quer Moro no palanque eleitoral, para não
melindrar Lula, que tivesse força interna para não dar a legenda a ele. Mas o
candidato a governador na Bahia pelo União Brasil, ACM Neto, quis antecipar a
disputa com o presidente do partido, Luciano Bivar, que apoia Moro. Se
deixassem Moro livre para fazer pré-campanha presidencial, ele poderia crescer
nas pesquisas, e o DEM poderia perder o controle da convenção.
Moro e Eduardo Leite, o ex-governador do Rio Grande do Sul que quer tomar o
lugar de João Doria como candidato à presidência, são personagens em busca de
uma afirmação nos respectivos partidos. Moro está em situação pior, num partido
que está dividido. Eduardo Leite tem o apoio importante da maioria da ala
histórica do PSDB, e o partido já se convenceu de que Doria não tem muito
futuro. Vão abandoná-lo e daqui a um, dois meses, vai ter dificuldades para
prosseguir na campanha presidencial.
O presidente do partido, Bruno Araújo, que estava constrangidíssimo na coletiva
em que Doria desistiu de desistir, já disse que a carta em que reafirmou a sua
candidatura não tem mais peso do que os fatos que estão acontecendo. E também
avalizou o périplo que Leite pretende fazer pelo país, garantindo até mesmo o
financiamento dessas viagens. O ex-governador Eduardo Leite vai viajar em
“missão partidária”, para incentivar os jovens a se registrarem como eleitores,
mas na verdade estará fazendo uma viagem de candidato a presidente da
República.
Doria só não podia ficar no governo, porque desmontava todo o esquema
partidário que já estava formado em torno do vice Rodrigo Garcia, com acordos
já fechados com deputados e prefeitos. Garcia certamente se afastará de Doria,
que vai ficar completamente isolado. Leite, que provavelmente será o candidato
oficial do PSDB em poucos meses, também já entra muito queimado diante da
opinião pública.
Ele, que tem o trunfo de ser o representante da “nova política”, está metido em
artimanhas nos bastidores para desfazer a vitória de Doria nas prévias. Só
participará das pesquisas quando for indicado oficialmente candidato, e é
provável que não tenha tempo de se firmar como o representante da terceira via,
ou centro democrático.
Os partidos políticos não têm unidade para encontrar uma chapa comum. No União
Brasil, a parte do DEM quer aderir a Lula, principalmente os candidatos a
governador. No PSDB, tem muita gente que quer aderir a Bolsonaro, cujo
eleitorado tradicionalmente tucano no sudeste e centro-oeste foi cooptado por
ele na eleição de 2018. Basta ver que Bolsonaro está tecnicamente empatado com
Lula em São Paulo, que sempre foi o bastião do PSDB. A recuperação de Bolsonaro
nas pesquisas eleitorais é outro fato relevante. O fato de os partidos do
Centrão terem sido os que mais cresceram na janela partidária mostra que os
políticos estão sentindo um cheirinho de vitória no ar, embora o vento continue
soprando para Lula. Ao contrário do Centro Democrático, que sente cheiro de
queimado.
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