Folha de S. Paulo
Partidos do centro, o miolo mole da
política, detestam seus candidatos
A Terceira Via detesta seus
candidatos. Por
que o eleitorado haveria de gostar deles?
Metade do PSDB quer
derrubar João Doria. Metade do União
Brasil quer expulsar Sergio Moro ou fazer o ex-juiz ajoelhar no milho,
com chapéu de burro. O MDB
quer arquivar Simone Tebet assim
que decorrer o prazo regimental.
Sobra Ciro
Gomes, do PDT. Mas Ciro nem mesmo foi chamado para a briga. Teve o
privilégio de não levar rasteiras.
O que quer a
Terceira Via?
Lançar um candidato "se colar,
colou". Quer acertar esses testes de internet para saber se o candidato
vai ter clique suficiente, como uma dancinha tiktok. Marquetagem sempre houve
(Jânio Quadros, Fernando Collor), mas até a picaretagem crua era menos
imediatista.
Para a maioria dos partidos, se a dancinha não render curtida, a empresa política muda o plano de investimento. Melhor gastar no aumento de bancadas, que dão uma bocada maior nos fundões eleitorais, mais votos para vender e mais postos de poder no Congresso, na camarilha que distribui emendas ou nalgum cargo público que ainda dê dinheiro.
Mas "o centro" e a elite menos
selvagem ainda querem um candidato. O tiktok da vez pode
ser Eduardo Leite, ex-governador tucano do Rio Grande do Sul. Não vem
ao caso, aqui, se Leite é uma candidatura prestante. Os partidos não estão
interessados.
Não há candidaturas porque não há programa
alternativo. Programa: dizer algo em que o eleitorado queira prestar atenção,
que tenha apoio político, viabilidade técnica e sustentação social, que dê
esperança crível, para que o governo não vá à breca em meses, levando junto o
país. Essas condições não parecem relevantes? Considere-se o caso de Dilma 2.
Além dessa baboseira de "salvar o país
de extremistas" e da desconversa de "evitar populismos", o que
insinua a Terceira Via? Que faria mais do mesmo de um governo FHC (antes
fosse). Ou faria uma "Ponte para o Futuro" de Michel Temer em que
trafeguem menos camburões com políticos.
Nem ao menos lhes ocorre o pragmatismo de
perguntar qual o motivo de os tucanos terem perdido cinco eleições seguidas,
sendo rebaixados para a segunda divisão em 2018. Nem se lembram de que o
governo Temer foi o mais impopular da história.
É com essa roupa que a Terceira Via quer ir
para o samba para o qual nem está sendo convidada? Não se trata de dizer que o
país não precisa de "reformas" (precisa ser virado do avesso), mas de
afirmar que essa conversa não convence ninguém.
Apenas "arrumar um economista"
com um "plano" também não vai servir. Até economistas sabem que, sem
acordo político forte, não sobrevivem (fora o trauma Joaquim Levy, o liberal de
Dilma 2, sabotado por tucanos e petistas). Esse arranjo precisa de bases e
acordos sociais, de esperança de que a coisa vá dar certo. No início de Lula 1,
a vida estava ruim, mas o povo teve um par de anos de paciência.
Em 2023 vai ser pior. A depressão econômica
vai completar uma década. Se um governo não propuser mudança profunda e não
convencer boas partes do povo miúdo e graúdo, vai viver sob estado de
insurreição latente (degringolada rápida nas pesquisas, perda de apoio
parlamentar) ou, pior, patente, com tumulto. Mais grave, a democracia já conta
com um quarto do eleitorado para derrubá-la (são os bolsonaristas de primeiro
turno). A revolta pode ter mais adeptos.
A Terceira Via não tem ideia alternativa de
país para apresentar. Reestreia seu Pantanal feio, sem enredo e sem audiência.
Assim, não ganha, afora milagres de marketing. Se ganhar, não governa, assim
como o PT não governará se não tiver plano de mudança e acordo amplos.
Jair Bolsonaro não quer governar. Sabemos
o que ele quer.
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