Valor Econômico
Empresários e banqueiros continuam
escolhendo seus eleitos
“Eu
procurava atender aos pedidos de partidos e políticos, em período eleitoral ou
não, porque esperava criar um reservatório de boa vontade para obter
contrapartidas para as minhas empresas”. A frase é de Joesley Batista, da JBS,
que injetou mais de R$ 750 milhões (valores atualizados pelo IPCA) no
financiamento oficial de campanhas eleitorais entre 2002 e 2014.
À parte o mérito empresarial, não há dúvidas que o pesado investimento da família Batista na política gerou dividendos em termos de benefícios tributários, volumosos empréstimos subsidiados de bancos oficiais e flexibilização da regulação fitossanitária que ajudaram o pequeno frigorífico a se tornar a maior empresa produtora de proteína animal do mundo.
Ao proibir as contribuições empresariais em
2015, o Supremo Tribunal Federal imaginou que estaria eliminando a influência
do dinheiro na política brasileira. Seu trabalho, porém, ficou incompleto. Ao
manter a possibilidade de pessoas físicas doarem até 10% de seus rendimentos
para campanhas, o STF deixou a porta aberta para que a elite econômica continue
elegendo seus candidatos preferidos a cada ciclo eleitoral.
Seja por interesse em influenciar a
política em favor de seus negócios ou por preferência ideológica, muitos
milionários brasileiros continuam investindo quantias consideráveis nas
eleições. A diferença é que, impossibilitados de utilizar o CNPJ de suas
empresas, agora eles participam do jogo do poder com seus próprios CPFs.
Nas eleições passadas, Rubens Ometto
(Cosan) foi o maior doador individual, despejando R$ 7,3 milhões em campanhas
de dezenas de candidatos, sendo seguido por Fernando de Castro Marques, da
União Química, com R$ 5,6 milhões. A família Rocha, do grupo Riachuelo, tem
três integrantes no topo dos dez maiores (Lisiane, Nevaldo e Élvio), que juntos
doaram mais de R$ 11,2 milhões.
É verdade que o volume total de dinheiro
privado caiu bastante com a proibição de participação das empresas, mas ele
continua a fazer muita diferença individualmente. Boa parte dessas doações
milionárias continua fluindo para a conta de políticos tradicionais, no mesmo
modelo de negócios já implementado por Joesley, Marcelo Odebrecht, Eike Batista
e tantos outros figurões do capitalismo de compadrio brasileiro.
A novidade dos últimos tempos é que as
doações vindas do CPF dos multimilionários têm servido para contornar a
barreira à entrada erigida na política brasileira com a criação do fundão
eleitoral. Graças ao apoio de grandes empresários e banqueiros, muitos
candidatos novatos conseguiram amealhar um volume total de recursos suficiente
para bancar uma campanha cara, principalmente com a produção e o impulsionamento
de conteúdo nas redes sociais.
A Faria Lima mergulhou de cabeça na onda da
renovação da política em 2018. Formados por entidades como RenovaBR, Acredito e
Raps, jovens como Vinicius Poit, Tabata Amaral, Marcelo Calero e Felipe Rigoni
se elegeram graças ao patrocínio de gestores de recursos e investidores como
José Carlos Reis Magalhães Neto (Tarpon), Patrice Etlin (Advent), Daniel
Goldberg (Farallon), Cláudio Amadeo (Jus Capital) e Roberto Lombardi, entre
outros (ver tabela).
Nomes tradicionais do empresariado
brasileiro, como Carlos Jereissati (R$ 3,3 milhões), Abilio Diniz (R$ 1,5
milhão) e os mineiros Salim Mattar (R$ 3,7 milhões) e Rubens Menin (R$ 2,5
milhões) também exerceram um protagonismo importante - os dois últimos,
inclusive, foram fundamentais no financiamento de candidatos do partido Novo,
do governador Romeu Zema aos deputados federais Tiago Mitraud e Lucas Gonzalez.
Mesmo entre os bolsonaristas esse processo
de ter grandes empresários apadrinhando novatos também se verificou. Carla
Zambelli, por exemplo, elegeu-se contando com polpudas contribuições do
construtor Tomé Abduch (também presidente do movimento “Nas Ruas”), do dono da
Smart Fit, Edgard Corona, e do fazendeiro Eduardo de Paula Machado.
Na onda da pseudo-renovação da política brasileira
de 2018, ter bons contatos com a elite econômica brasileira foi a receita de
sucesso seguida por muitos que não tinham acesso aos milhões do fundo
eleitoral, não eram parentes de político tradicional e não possuíam capital
suficiente para bancar a campanha com recursos do próprio bolso.
*Bruno Carazza é mestre em
economia e doutor em direito, é autor de “Dinheiro, Eleições e Poder: as
engrenagens do sistema político brasileiro” (Companhia das Letras)”.
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