Folha de S. Paulo
Diante de problemas, Bolsonaro não agiu nos
últimos três anos e meio
Jair
Bolsonaro não trabalha. Diante de todo problema enfrentado pelo Brasil,
Bolsonaro sempre escolhe a solução em que ele não precisa fazer nada.
O caso mais trágico foi o combate
à pandemia. Organizar o isolamento social, como recomendava a Organização
Mundial de Saúde, seria uma tarefa extraordinariamente complexa: "muito
serviço", Jair pensou, e desistiu da ideia.
No início da pandemia, alguns países tentaram outras estratégias, às vezes combinadas com o isolamento, como a testagem em massa com rastreamento dos contatos dos doentes. "Eu que vou organizar a fila?", perguntou-se Jair, e também desistiu. Bolsonaro chegou a defender que só os idosos ficassem isolados, mas apressou-se em dizer que não era ele quem ajudaria aqueles velhos todos, isso era problema de cada família.
Eis que o deputado extremista Osmar Terra
ofereceu a Jair a
tese da "imunidade de rebanho". Ampla e irrefutavelmente refutada
pelos fatos, a tese da imunidade de rebanho dizia que Bolsonaro não precisava
fazer nada para combater a pandemia de Covid-19: bastava deixar o vírus
circular até que os sobreviventes ficassem imunes. Bolsonaro não ouviu nada
depois de "não precisa fazer nada": comprou a ideia na hora.
Notem bem: quando Bolsonaro decidiu por
esse caminho, não existia vacinas. Não é que Jair tenha topado deixar morrer as
670 mil que morreram. Ele topou deixar morrer os milhões que teriam morrido se
a vacina não tivesse sido inventada e se Doria
não a tivesse comprado.
Solução de Bolsonaro para segurança
pública? Compre você mesmo uma arma e mate você mesmo a bandidagem. Inclusive,
já fique você avisado que o bandido também vai comprar arma nova. Fiscalizar
quem é ou não é bandido daria trabalho, e Bolsonaro não trabalha.
Solução de Bolsonaro para crianças que
ficaram sem escola na pandemia? Home schooling.
Os pais que se virem para dar aulas para seus filhos. Pais pobres que não
puderam estudar e não conhecem as matérias que seus filhos estudam, pais que
depois do trabalho pegaram duas horas de trem e chegam cansados em casa, eles
que aceitem trabalhar mais para Bolsonaro poder trabalhar menos.
Bolsonaro sempre foi um crítico dos
ecologistas. Poderia, portanto, ter proposto uma reforma da legislação
ambiental. Mas isso também exigiria estudos, negociações, reuniões, enfim,
trabalho. Jair preferiu desmontar a fiscalização ambiental: assim, não faz
diferença qual é a lei, já que ninguém vai aplicá-la, e "fiscalizar
floresta" passa a ser um trabalho a menos para Bolsonaro fazer.
Não é questão de liberalismo. Implementar
reformas liberais também dá trabalho, como mostra a experiência de vários
governos brasileiros. Privatizar, por exemplo, exige decidir sobre o modelo de
privatização, exige elaborar um quadro regulatório. Cortar impostos implica
decidir que impostos serão cortados, que programas serão reduzidos após a perda
de arrecadação. Isso tudo é trabalho, e trabalho Bolsonaro não quer.
Não é questão de laissez-faire, o Jair só
não quer faire serviço nenhum.
Assim funcionou o Brasil nos últimos três
anos e meio. Para saber que política pública seria implementada pelo governo
federal, bastava descobrir qual das opções dispensava Jair Bolsonaro de sair do
WhatsApp, colocar uma calça e dar expediente.
2 comentários:
Bolsonaro não gosta de fiscalizar bandido! Ele prefere deixar todos os seus ministros e subordinados cúmplices fazerem o que quiserem, desde que obedientes às ordens do genocida.
Simples assim.
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