terça-feira, 9 de agosto de 2022

Hélio Schwartsman - Demônios no Planalto

Folha de S. Paulo

Eles parecem não se esforçar o suficiente, pois estão em jogo a salvação ou a danação

"Podem me chamar de fanática, podem me chamar de louca. Eu vou continuar louvando nosso Deus [...], porque por muitos anos, por muito tempo, aquele lugar foi consagrado a demônios, [...] Planalto consagrado a demônios. E, hoje, consagrado ao Senhor Jesus", disse Michelle Bolsonaro. Não sou eu quem vai contrariar a primeira-dama. Também penso que falar em demônios como agentes da política em pleno século 21 é coisa de loucos e fanáticos, mas convém qualificar essa minha asserção.

Podemos, como sugeriu a mulher do presidente, pensar o Universo como uma batalha entre o bem, representado por Deus, e o mal, na figura dos demônios? No plano filosófico, estamos meio que condenados ao agnosticismo. Não há evidência de que exista um criador, mas, como ausência de evidência não é evidência de ausência, não podemos descartar a possibilidade de um demiurgo que se esconda de nós, restando-nos apenas suspender o juízo acerca dessas questões.

No plano comportamental o jogo é outro. Aqui há pouco espaço para o agnosticismo. Ou o sujeito age como se houvesse um Deus pessoal ao qual terá de prestar contas, ou como se não houvesse. E o surpreendente é que, mesmo entre os que se declaram religiosos, é pequeno o número daqueles que seguem à risca todos os mandamentos.

Isso nos faz perguntar se os que se dizem crentes de fato acreditam em suas crenças. Eles não parecem se esforçar o suficiente, dado que o que está em jogo seria a salvação ou a danação eternas. Hugo Mercier oferece uma explicação alternativa. Para o cientista cognitivo, existem crenças que nos fazem agir de forma condizente com elas e outras que, por não afetar diretamente nossa realidade, não demandam ações imediatas, o que as torna "baratas". Eu posso apregoar esse tipo de crença só para ficar bem com o grupo, já que não terei de agir de acordo. Exceto para uns poucos santos, crenças religiosas são do segundo tipo.

4 comentários:

Paulo dos Santos Andion disse...

Desconfio que a morte daquele funcionário da Caixa Econômica, acusado publicamente de assédio, foi obra de Magia Negra me parece que por trás das acusações há ainda um escândalo de prêmios acumulados nas loterias semelhante às dúvidas sobre as urnas eletrônicas do TSE.

Fernando Carvalho disse...

Pastores movidos a quilos de ouro? Pra mim são adoradores do Bezerro de Ouro. O Senhor e Jesus estão entrando nessa de gaiatos.

Anônimo disse...

A única verdadeira crença,
para o Bolsonaro,
é que o crime compensa!

ADEMAR AMANCIO disse...

Eu creio em Deus,mas não em um ''Deus pessoal'' da Bíblia,há concepções mais elevadas da ''fonte criadora'',a literatura espírita é riquíssima em conhecimento,sem dogmatismo.