terça-feira, 9 de agosto de 2022

Joel Pinheiro da Fonseca - O meu deputado é melhor que o seu

Folha de S. Paulo

Numa democracia, nenhuma fórmula matemática substituirá nossa avaliação pessoal

O que faz de alguém um bom deputado? As variáveis são muitas e é difícil saber como tratá-las de um jeito mais objetivo. Para nos ajudar, existem iniciativas que os avaliam e atribuem notas. Não é fácil, e por isso mesmo é bom valorizar quem presta esse serviço.

Uma dessas iniciativas é o Ranking dos Políticos, que avalia deputados e senadores. Ele leva em conta o comparecimento dos congressistas às sessões, se eles têm ou não condenações na Justiça, o quanto economizam da sua cota parlamentar e verba de gabinete e, mais importante, como votaram em pautas que o conselho do ranking julga importantes.

Inevitavelmente, o ranking reflete a preferência ideológica de seus conselheiros. Neste momento, o primeiro lugar do senador Eduardo Girão (Podemos - CE), fiel escudeiro de Bolsonaro na CPI da Covid. Todos os demais bem colocados são políticos de direita.

Mesmo dentro de uma perspectiva econômica liberal, certas escolhas do ranking são questionáveis. Por exemplo: o corte do ICMS da gasolina, medida que torrou bilhões de reais para reduzir temporariamente o preço do combustível e ajudar na reeleição, entrou como nota positiva.

Seja como for, se você partilha das convicções ideológicas dos organizadores do ranking, ele será um bom guia para saber o quanto cada legislador se aproxima ou se afasta delas.

Desde a semana passada, um novo índice veio contribuir para o debate público: o Índice Legisla Brasil. Neste novo projeto, as criadoras buscaram justamente uma avaliação dos deputados que não dependesse da concordância ideológica. Um bom é aquele que entrega e participa da política, independentemente de ser de esquerda ou direita.

Como toda abordagem, essa aqui também é passível de críticas. Um projeto de lei para liberar a pílula do câncer terá o mesmo peso que um projeto relevante, com impactos positivos na saúde. O mérito desse novo índice é que, de fato, há políticos de direita, centro e esquerda entre os melhores avaliados. O que faz sentido: há políticos sérios em todos os partidos.

Para mim, o maior problema deste índice é não ter feito dele também um ranking. Cada deputado é avaliado em 17 critérios —cujos dados são todos públicos—, que são transformados numa nota que vai de 1 a 5 estrelas.

Ou seja, todos os deputados estarão alocados em apenas cinco notas possíveis. O grupo de nota máxima conta com 41 nomes. É útil para um olhar panorâmico, mas seria muito mais informativo ter a nota específica de cada um e poder escaloná-los num ranking, o que inclusive geraria mais interesse público por seu caráter de competição.

É esperado que os dois gerem resultados diferentes. O deputado mais bem colocado do Ranking dos Políticos, Alex Manente (Cidadania - SP) tem apenas três estrelas no Índice Legisla Brasil. Por outro lado, Tabata Amaral (PSB - SP), que tem 5 estrelas, aparece na posição 276 no ranking (de 576 deputados e senadores avaliados). Adriana Ventura (Novo - SP) aparece bem colocada em ambos.

Tudo isso é do jogo. Cada índice captura apenas um recorte da realidade e pode ter deixado de lado justo aquilo que você considera mais importante. Numa democracia, nenhuma fórmula matemática substituirá nossa avaliação pessoal.

Mas elas podem ajudar, juntando e formatando muita informação que está espalhada por aí de uma maneira que consigamos entender. Todo mapa simplifica um território; se fosse tão detalhado quanto a realidade, seria inútil para nos guiar.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Me cheira à maracutaia.