Apesar de bastante difundido, o incêndio provocado em 8 de março de 1857 para impedir uma greve de funcionárias – e que teria matado 129 operárias carbonizadas – nunca aconteceu
Por Natália Flach / Valor Econômico
SÃO PAULO - O Dia Internacional das Mulheres é
um marco na luta das mulheres por
direitos civis e trabalhistas. Mas a história começa na década de 1900, e não 43
anos antes como muitos acreditam.
Apesar de bastante difundido, o incêndio provocado em 8 de março de 1857 para impedir uma greve de funcionárias – e que teria matado 129 operárias carbonizadas que estavam presas na fábrica Cotton – nunca aconteceu, diz um artigo do Parlamento Europeu. Também é mentira a história da primeira greve promovida por mulheres naquele ano, como alguns sites descrevem. Ao menos, os jornais da época não noticiaram o fato, de acordo com reportagem do Washington Post.
O que havia de fato, por volta de 1908, era
uma grande inquietação e debate crítico em consequência da repressão e
desigualdade de gênero, o que fez com que 15 mil mulheres marchassem pela
cidade de Nova York exigindo menos horas de trabalho, melhores salários e
direito de votar.
Esse movimento levou à criação do Dia
Nacional da Mulher nos Estados Unidos que foi celebrado em 28 de fevereiro do
ano seguinte e durou quatro anos. A informação é da comunidade International Women's Day, citando uma declaração do
Partido Socialista da América.
Esse foi o gancho para Clara Zetkin, líder
no Partido Social Democrata na Alemanha, apresentar a ideia de um Dia
Internacional da Mulher, durante a segunda Conferência Internacional de
Mulheres Trabalhadoras, em 1910.
Ela propôs que houvesse uma data para
pressionar a sociedade a atender as demandas das mulheres em todo o mundo.
Apesar de a proposta ter sido aprovada por unanimidade, ela não foi adotada em
todos os lugares.
Apenas Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça
celebraram a data em 19 de março do ano seguinte, com mais de 1 milhão de pessoas
tendo participado de comícios. Mesmo assim, foi o suficiente para estabelecer o
novo marco na luta das mulheres.
O verdadeiro incêndio na fábrica em NY
Menos de uma semana depois, em 25 de março,
um trágico incêndio na
cidade de Nova York tirou
a vida de 146 trabalhadoras da indústria Triangle Shirtwaist Company, sendo que a maioria
tinha origem italiana e judia. Muitas delas não conseguiram fugir porque as
portas estavam trancadas para evitar que fizessem pausas não autorizadas.
Este incidente teve
um grande impacto na sociedade, e mais de 100 mil pessoas participaram da
marcha fúnebre em homenagem às vítimas.
Além disso, a tragédia chamou atenção para
as condições de trabalho e para a legislação trabalhista, em especial nos
Estados Unidos, tema que se tornou foco dos eventos subsequentes do Dia
Internacional da Mulher.
Em 1913, a data foi celebrada pela última vez
no último domingo de fevereiro. Isso porque, durante os comícios organizados
para discutir as condições de gênero, decidiu-se que, a partir do ano seguinte,
8 de março seria o marco para todos os países que seguiam o calendário
gregoriano.
Em 1914, mulheres de toda a Europa saíram
às ruas em campanha contra a Primeira Guerra Mundial. Em especial, houve uma
marcha em apoio ao sufrágio feminino em 8 de março, e Sylvia Pankhurst foi
presa em frente à estação de Charing Cross a caminho de fazer um discurso em
Trafalgar Square.
Na Rússia, as mulheres também tomaram
frente nos protestos e iniciaram uma greve por "Pão e Paz" em 1917,
em resposta à morte de mais de 2 milhões de soldados na guerra. As paralisações
começaram em 23 de fevereiro, no calendário juliano que até então estava em uso
no país. A data correspondia a 8 de março no calendário gregoriano. Esse
movimento acabou forçando o czar a abdicar do trono, e o governo provisório
concedeu às mulheres o direito a voto.
Apesar de décadas de luta por igualdade e direitos, foi somente em 1975 que a Organização das Nações Unidas incluiu o Dia Internacional da Mulher em seu calendário.
2 comentários:
Que confusão!
Carácoles!
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