Por Mariana Muniz / O Globo
Decisão de Moraes e declaração de Barroso
reforçam entendimento sobre necessidade de regulação das plataformas
Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF)
intensificaram a defesa da votação do PL das Fake News, que prevê punições para
a disseminação de desinformação e a responsabilização das plataformas pelos
conteúdos veiculados. O projeto está pronto para ser votado em plenário, mas há
a possibilidade de que não ocorra nesta terça-feira, como estava previsto
inicialmente. Na ausência de posicionamento, no entanto, magistrados avaliam
que é possível que a Corte leve a julgamento processos que envolvem a
responsabilidade das plataformas.
A necessidade de uma definição por parte da
Câmara dos Deputados para tornar crime a divulgação de informações falsas na
internet é vista como urgente por uma ala de ministros ouvida pelo GLOBO.
Publicamente, os posicionamentos dos magistrados deixam transparecer esse apoio. Na decisão em que determinou a remoção de ataques ao chamado PL das Fake News e a realização de depoimentos de presidentes no Brasil de Google, Meta e Spotify, o ministro Alexandre de Moraes afirmou que é "urgente, razoável e necessária" uma definição dos termos da responsabilidade solidária civil das empresas pelo conteúdo publicado por elas, e acrescenta que essa definição pode ser "legislativa e/ou judicial".
Segundo Moraes, a definição da
responsabilidade sobre o conteúdo publicado pode ocorrer tanto pelo Legislativo
quanto pelo Judiciário.
Uma regulação pelo Legislativo também é
enfatizada pelo ministro Luís Roberto Barroso. Em entrevista concedida nesta
terça-feira, à TV Migalhas, o magistrado afirmou que “a regulação é inevitável”
e disse que uma eventual criminalização das fake news "não é
censura".
— A regulação é absolutamente inevitável, o
que precisamos acertar é a dose do remédio — disse.
Ainda segundo o ministro, há um problema
grave gerado pela proliferação de desinformação.
— Há um subproduto grave [da Internet]: a
proliferação da desinformação, dos discursos de ódio, das teorias
conspiratórias, da destruição de reputações, de Estados estrangeiros
interferindo com eleições em outros países. Há um problema — defendeu.
Reservadamente, ministros avaliam a
possibilidade de o Supremo julgar em breve os recursos que discutem as regras
do Marco Civil da Internet. A lei, sancionada em 2014, determina em seu artigo
19 que "o provedor de aplicações de internet somente poderá ser
responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por
terceiros" se não cumprir determinação judicial para a retirada de
conteúdo.
Os temas são discutidos em dois recursos
extraordinários, relatados pelos ministros Luiz Fux e Dias Toffoli. Em março, o
Supremo realizou uma audiência pública que reuniu também os ministros Alexandre
de Moraes, Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso.
Na ocasião, Moraes afirmou que o problema é
mundial e que as redes sociais não podem ser "terra de ninguém".
— Foram instrumentalizadas para o que nós
vimos que ocorreu. Então, é falido o modelo atual. E não é no Brasil, é falido
no mundo todo. Não é possível, eu repito sempre isso e vou continuar repetindo,
não é possível continuarmos achando que as redes sociais são terra de ninguém,
sem responsabilidade alguma.
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