Valor Econômico
Investimento federal em 2022 foi de 0,5%
PIB, o menor da série histórica do Tesouro Nacional
Eleito com a promessa de recuperar os
investimentos públicos, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva inovou. Colocou,
na proposta do novo arcabouço fiscal, uma garantia de que o valor destinado a
essa finalidade não será, nos próximos anos, menor do que os cerca de R$ 70
bilhões de 2023. É uma ideia polêmica.
De um lado, injeta dinheiro em uma frente
que dinamiza a economia. De outro, cria mais uma rigidez no já engessado
Orçamento federal.
No ano passado, os investimentos federais somaram R$ 45 bilhões, ou 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), o menor nível já registrado pelo Tesouro Nacional. O novo piso dá outra perspectiva.
No Ministério dos Transportes, o plano é
investir R$ 24 bilhões por ano, disse a esta coluna o secretário-executivo da
pasta, George Santoro. É um salto, considerando que no ano passado foram
executados R$ 7,1 bilhões. Ainda assim, não será suficiente para compensar a
depreciação da infraestrutura.
Os recursos orçamentários serão
direcionados a trechos rodoviários que, por seu volume de tráfego, não dariam
sustentação a uma concessão ou a uma Parceria Público-Privada. Para esses,
serão celebrados Contratos de Restauração e Manutenção (Crema). A pasta quer
reformular esse antigo instrumento, para dar mais peso à qualidade dos serviços
e estabelecer prazos mais longos, informou.
Mas as ações mais imediatas foram a
retomada de cerca de mil contratos do Departamento Nacional de Infraestrutura
de Transportes (Dnit) que estavam parados e fortalecer o fluxo de recursos para
as obras da Ferrovia Oeste-Leste (Fiol).
O governo acredita que a retomada de obras,
não só no Ministério dos Transportes, gerou efeitos no mercado de trabalho já
em março. O setor de construção civil registrou saldo positivo de 33.641 vagas,
das quais 14.279 estão em obras de infraestrutura e 10.349, em serviços
especializados em construção.
Essa foi a principal explicação dada pelo
ministro do Trabalho, Luiz Marinho, para o saldo de 195.171 empregos no mês,
bem acima da mais otimista das projeções do mercado, de 153 mil novas vagas.
A surpresa no emprego foi comemorada pelo
ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ele chamou a atenção para o fato de
analistas de mercado estarem revendo para cima as projeções de crescimento do
PIB.
O dinamismo na economia está no radar do
relator da proposta na Câmara dos Deputados, Cláudio Cajado (PP-BA). Ele tem
dito que não gosta dos termos “arcabouço”, que “remete a ossada, que é resto
mortal”, nem “âncora”, que é “algo que prende”. Prefere que se diga “nova regra
fiscal” e destaca seu caráter anticíclico.
O piso de investimentos, porém, precisa ser
mais bem qualificado, na avaliação do consultor de Orçamento e Fiscalização da
Câmara dos Deputados Ricardo Volpe. Da forma como está, comporta de uma ponte a
uma cadeira de escritório, apesar de seus impactos na economia serem muito
diferentes.
Além disso, alerta, o governo está criando
um problema para si mesmo, ao estabelecer a obrigatoriedade de fazer
investimentos tão elevados todos os anos. Isso pode dificultar o cumprimento da
meta de resultado das contas públicas. Sanções brandas para isso são motivo de
crítica de especialistas.
O novo arcabouço fiscal contém um teto de
gastos, sob o qual está um conjunto de itens obrigatórios que crescem, chova ou
faça sol. São os casos de Previdência, salários do funcionalismo e dos
dispêndios mínimos em saúde e educação, fixados na Constituição.
Nos últimos anos, por causa do teto, essas
despesas foram comprimindo as demais. Foi por isso que o investimento chegou ao
menor nível da história e restaram dotações irrealistas para Farmácia Popular,
merenda escolar e outros programas.
A história pode se repetir. Estudo
elaborado pelos consultores da Câmara Márcia Moura e Arthur Kronenberger aponta
que, para o governo cumprir a meta fiscal de 2024, as despesas discricionárias
teriam de cair ao nível de 2022, possivelmente o pior da história.
Eles dizem que é possível contornar a
situação elevando as receitas - o caminho escolhido pelo governo.
Questionada, a área econômica respondeu que
“o estabelecimento de um piso mínimo para os investimentos protege essa rubrica
que historicamente é a primeira a ser atingida em momentos de recessão, gerando
uma espiral contraproducente para o crescimento e desenvolvimento”.
Toda regra fiscal vai ter problema, diz
Santoro, que até o ano passado era secretário de Fazenda de Alagoas. O que
determina seu sucesso ou fracasso é a governança.
Um comentário:
O nome tanto faz,o importante é que funcione,arcabouço ou calabouço,rs.
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